Desempenho acústico ganha atenção
Título | Desempenho acústico ganha atenção
Fonte | Portal AECweb de Agosto/2015
Autor | Redação AECweb / e-Construmarket
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Com a criação de nova norma técnica, o mercado vem oferecendo inúmeras alternativas para empreendimentos que querem reduzir a passagem de ruídos.
A criação da norma de desempenho ABNT NBR 15575, em julho de 2013, ajudou a alavancar o mercado de acústica, obrigando investidores e construtoras a adotar materiais com bom desempenho em seus empreendimentos. “Ao final, todos saem ganhando: os usuários, que compram e habitam imóveis adequados; as construtoras e incorporadoras, que podem oferecer melhores produtos; e a indústria, que tem o desafio de inovar em materiais e soluções. Aos poucos, há um despertar para a ‘consciência acústica’, e a sociedade está procurando entender mais sobre o assunto”, avalia o arquiteto Fernando Neves Caffaro, coordenador de especificação técnica da Isover Brasil.
Para o engenheiro Davi Akkerman, presidente da ProAcústica – Associação Brasileira para a Qualidade Acústica –, a otimização e inovação de produtos para atender à nova norma podem ser vistas, principalmente, nos elementos de esquadrias que compõem os sistemas de vedações verticais externas e internas. O profissional destaca que, quando o assunto é a acústica, há necessidade de entender a diferença entre conforto e desempenho. “Não se fala em conforto acústico na indústria da construção civil, pois se criou um mito em torno dessa palavra. O que o setor procura é desempenho, e este sim é essencial e obrigatório, resultando, na maioria dos casos, em bom conforto acústico”, explica.
COMO OBTER DESEMPENHO ACÚSTICO
Para atingir o desempenho desejado, Akkerman recomenda mesclar soluções arquitetônicas com a utilização de produtos que visam proporcionar conforto acústico. Mesmo quando há desequilíbrio nessa equação, com as estratégias de projeto falhando, os materiais podem resolver o problema. “É perfeitamente possível realizar essa ‘intervenção acústica’ na fase de projeto. Por exemplo, existe um requisito mínimo de isolamento de vedações verticais internas para paredes geminadas de dormitórios de diferentes unidades, que é de 45 dB. Às vezes, o projeto arquitetônico prevê a alvenaria de blocos cerâmicos de 14 cm revestida de gesso dos dois lados e, no estudo de desempenho, essa tipologia não atende às condições necessárias. Então, o consultor de acústica dispõe das ferramentas necessárias para avaliar as opções viáveis, como o aumento da espessura, preenchimento ou mudanças no tipo de bloco, ou ainda, alterações no revestimento de acabamento”, detalha.
Entretanto, resolver problemas de projeto com o uso de materiais nem sempre é fácil, conforme afirma Caffaro: “Dependendo do caso, não há ‘remédio’ que resolva. Se a solução não foi especificada na fase de projeto do edifício, será complexo e oneroso resolver, em ambientes residenciais já habitados, transtornos causados por ruídos de impacto, como caminhar de salto alto dentro do apartamento. Já quando a correção acústica é em sala de reunião, por exemplo, fica mais viável a aplicação de produtos acústicos, como forros e revestimentos de paredes”.
MATERIAIS CONTRA RUÍDOS
É grande a quantidade de produtos que colaboram com o bom desempenho acústico de uma edificação disponíveis no mercado. As opções passam por forros; painéis e mantas em lã de vidro para isolação dos sistemas de construção a seco, como drywall e steel frame; pisos flutuantes; painéis acabados para revestimentos de paredes; isolação para tubulações hidráulicas; entre outras. “Todos os elementos e/ou sistemas utilizados na construção civil têm suas características acústicas e, dependendo de sua espessura e revestimento de acabamento, podem ser úteis quanto ao desejado desempenho acústico. Entretanto, de maneira genérica, os elementos construtivos de maior densidade oferecem melhor performance”, informa Akkerman.
As soluções acústicas são indicadas para qualquer tipo de empreendimento, porém é importante que sejam feitas análises, como da região onde ele será construído e as características de ruídos do seu entorno. “Esta etapa é imprescindível para a definição e especificação dos produtos e sistemas que proporcionarão conforto acústico aos usuários”, indica Caffaro.
Estudo de grande importância é a chamada paisagem sonora, realizada no entorno do empreendimento de forma a classificar o terreno de acordo com as classes de ruídos definidas na parte 4 da ABNT NBR 15575. “Em seguida, é recomendável efetuar estudo do desempenho acústico das vedações verticais internas, dos pisos e cobertura. De preferência, com uso de softwares específicos”, recomenda Akkerman.
O tipo de edificação e a maneira como será utilizada também interferem na especificação do tipo de material a ser instalado. “Para isolação de ruído de impacto de uma laje residencial, há um tipo de sistema que, por sua vez, terá especificações técnicas, particularidades e exigências diferentes das necessárias para um estúdio de som. Mas o objetivo é o mesmo, não deixar que ruídos sejam transmitidos de um ambiente para o outro. Muitas vezes, os produtos podem coincidir em diversos usos de edifícios”, fala Caffaro.
INSTALAÇÃO DO SISTEMA
A instalação é outro ponto que merece atenção e deve contar com mão de obra qualificada, para que a execução do sistema seja fiel ao que foi projetado.
“De modo geral, para as correções acústicas em ambientes existentes, a instalação é rápida e simples. Através de perfis metálicos nas paredes, é possível instalar, por exemplo, painéis em lã de vidro revestidos por tecidos, forros acústicos apoiados em perfis metálicos ou até mesmo aparafusados direto no teto”, ressalta Caffaro.
O mercado disponibiliza diversas soluções que facilitam as aplicações, mas é sempre recomendável estudar cada caso, e a melhor opção acústica pode ser determinada com suporte de um projetista especializado. Caso contrário, há o risco de gastar dinheiro e não resolver o problema.
Vale lembrar que, para apresentar qualidade no desempenho, os produtos disponíveis no mercado devem ser aplicados de acordo com a orientação do fabricante e respeitando o projeto. “Em geral, os sistemas comercializados no Brasil têm boas condições de desempenho acústico, desde que não sejam aqueles de segunda ou terceira linha”, finaliza Akkerman.
COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA
Davi Akkerman – engenheiro civil formado pela Universidade Mackenzie, com mestrado pelo Institute of Soundand Vibration Research, de Southampton (Grã-Bretanha). Tem especialização em Controle de Ruído Industrial pelo IPT. É membro eleito do Institute of Accoustic (Grã-Bretanha) e diretor da Harmonia Davi Akkerman + Holtz, escritório de consultoria e projetos acústicos. Exerce seu segundo mandato como presidente da ProAcústica – Associação Brasileira para a Qualidade Acústica.
Fernando Neves Caffaro – arquiteto e urbanista pela FAAM (FMU) e especialista em Conforto Ambiental e Conservação de Energia pela Fundação para a Pesquisa Ambienta (FUPAM), ligada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). É coordenador de Especificação Técnica Isover Brasil, atuando na área de conforto acústico há 14 anos. Ocupa o cargo de diretor de Relações com o Mercado da ProAcústica.