A ProAcústica realizou 1º Encontro de 2012 apresentando projetos, ações e novidades.
Em seu primeiro encontro de 2012, a ProAcústica (Associação Brasileira para a Qualidade Acústica), que tem como objetivo divulgar a importância da qualidade acústica nas edificações e no meio ambiente lança a Comissão de Trabalho sobre Acústica para Restaurantes. A iniciativa é inspirada na categorização adotada pelo jornal norte-americano San Francisco Chronicle, da Califórnia, onde os restaurantes recebem além da classificação de sua comida e atendimento, também a indicação do nível de ruído feita pelo crítico do jornal, baseada no símbolo de um ou mais sinos.
Dessa maneira, os clientes podem escolher em que tipo de restaurante almoçar ou jantar, usando avaliação como referência. Ou seja, as pessoas que querem freqüentar um lugar mais tranqüilo para uma conversa, ou um lugar com maior nível de ruído, poderiam escolher o estabelecimento, de acordo com a classificação. “Esse trabalho representa uma prestação de serviços da ProAcústica aos restaurantes e à população de São Paulo. O cliente ficaria informado sobre o nível de ruído com base na avaliação”, de acordo com Edison Moraes, presidente da comissão de Classificação Acústica para Restaurantes.
Num primeiro momento, a ideia é implantar a classificação na cidade de São Paulo. A medição se baseará em critérios como utilização de um decibelímetro calibrado, de acordo com as normas técnicas vigentes, acionado em três momentos distintos por 30 segundos, a uma altura padrão de 1,20 m do chão, entre as mesas, cozinha, entrada do estabelecimento, entre outros, levando em consideração a ocupação de 70% das mesas do ambiente. Na verdade, não seria uma avaliação positiva ou negativa, mas simplesmente indicativa para que o cliente tome sua decisão ao escolher o estabelecimento.
“Estamos conversando com os editores de guias de restaurantes dos jornais e revistas de São Paulo e vamos iniciar um diálogo institucional com as entidades representativas do setor de restaurantes para esclarecer o nosso trabalho. Assim que tudo estiver formatado e houver consenso quanto a procedimentos e critérios, o público poderá incorporar a acústica como mais uma das experiências vividas nos restaurantes, assim como a comida e o ambiente”, explica Marcos Holtz, da comissão de Classificação Acústica para Restaurantes da ProAcústica. Ainda não há previsão de quando a classificação será implantada, mas, Holtz avalia que se os restaurantes aderirem, o processo pode levar pouco mais de um ano.
Ao mesmo tempo, a ProAcústica irá iniciar um trabalho científico para medir os níveis de ruídos nos restaurantes, mas sem identificar os estabelecimentos. “Vamos elaborar um questionário, com critérios técnicos, de acordo com norma específica da ISO, para avaliação subjetiva de ruídos, a fim de realizar uma pesquisa junto aos clientes de restaurantes”, destaca Holtz. O maior benefício da pesquisa para os donos de restaurantes seria oferecer um ambiente acusticamente saudável para seus clientes fidelizando-os. E ao mesmo tempo orientar os estabelecimentos a respeito dos benefícios de um bom projeto acústico e do conforto que proporciona aos usuários.
Curso de pós-graduação em acústica e novas comissões de trabalho
O presidente da ProAcústica, Davi Akkernan, abriu o evento anunciando para maio o curso de pós-graduação em acústica, que será realizado em convênio com a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE)e a Escola Politécnica da USP, por meio da Polintegra. O curso terá carga horária de 160 horas e está dividido em quatro módulos de uma semana nos meses de maio, junho, agosto e setembro de 2012.
Além da Comissão de Trabalho sobre Acústica para Restaurantes, foram constituídas também as Comissões de Trabalho de Acústica Ambiental, com coordenação de Nicolas Isnard, e de Edificações, coordenada pelo engenheiro Juan Frias.A primeira irá tratar da legislação nacional, considerada inadequada e defasada para a gestão de ruído urbano nas cidades brasileiras. De acordo com Isnard, nos países da Europa já está em vigor desde 2002 a Diretiva Européia que trata da gestão da poluição sonora no meio ambiente. Na América Latina, cidades como Santiago (Chile) e Buenos Aires (Argentina) já dispõem de uma cartografia sonora. “Nosso objetivo é adotar um Plano Diretor Sonoro para as cidades brasileiras. Um caso interessante que podemos citar é o de Fortaleza, onde a Secretaria do Meio Ambiente exige estudos de impacto ambiental de ruído para ferrovias, estádios e rodovias. Pretendemos criar uma metodologia e simulações para a gestão de ruído ambiental nas cidades”, explica Isnard.
Já a de a Comissão de Acústica em Edificações deverá ser responsável por criar uma base de dados sobre acústica nas construções, baseada em ensaios de campo, com o objetivo de orientar o mercado a respeito dos requisitos da Norma de Desempenho (NBR 15575). Ao final, pretende elaborar um manual técnico sobre as implicações acústicas da norma, oferecendo dados para as diversas soluções construtivas. Mais adiante a ideia é criar um sistema para certificação acústica de edificações, com selo baseado em classes de desempenho, dependendo do uso do prédio. “A ProAcústica deverá compilar dados sobre desempenho acústico de sistemas construtivos e fazer avaliação junto aos usuários a respeito dos níveis de conforto acústico dessas habitações. Hoje, os níveis mínimos exigidos pela norma já não dão conta de oferecer conforto acústico para os moradores. Vamos tomar a frente e ampliar essas exigências e o escopo da norma, diferenciando-as para os diferentes tipos de uso, desde habitação, até hotéis, edifícios corporativos, hospitais, refeitórios, salas de aula, entre outros”, detalha Frias.
Norma de Desempenho
A Norma de Desempenho (NBR 15575) e qualidade em projetos e obras foi o tema da palestra de Maria Angelica Covelo Silva, doutora em Engenharia pela Poli-USP e diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento. De acordo com a engenheira, existe uma grande desinformação a respeito do conceito de desempenho. Com o crescimento da construção civil e o aumento da escala de produção, o setor se voltou, na década passada, para a redução de custos e racionalização das obras. “Esse processo, no entanto, provocou inúmeros problemas de desempenho. Assistimos à redução da espessura das lajes em edifícios habitacionais, em nome da racionalização. Mas isso provocou reclamações dos consumidores por problemas de desempenho acústico. Portanto, chegou o momento de levar em conta o conforto do usuário, acrescentando o desempenho, que nada mais é do que levar em conta o conforto antropodinâmico e a habitabilidade”, destaca.
Para Maria Angélica, o momento é de transição e há necessidade de um processo educativo, a fim de trocar o medo do desconhecido pela curiosidade. “No início, tivemos reações negativas do setor à Norma de Desempenho muito mais por medo do desconhecido. É preciso explicar que o desempenho é puro projeto, incluindo a resolução de todas as interfaces. Por isso, o processo de projeto irá mudar. Não adianta especificar um produto ‘ótimo’, que não tenha avaliação de desempenho, que vai mostrar como ele interage com os outros materiais e subsistemas da obra”, ressalta.
A arquiteta Eloise Amado, coordenadora do Comitê de Projeto do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) destacou que as mudanças no setor da construção civil têm caráter cada vez mais dinâmico e que a sustentabilidade está sendo incorporada ao processo de projeto. “O projeto arquitetônico deverá ser cada vez mais integrado aos demais e levar em conta a inovação, o conhecimento e a liberdade criativa, englobando o novo, o resgatado e o adaptado. Isso trará mudanças também nos resultados, levando em conta o ciclo de vida e no desempenho das edificações, além da valorização do trabalho profissional”, esclarece Eloise. Para ela, a tendência é uma visão abrangente do projeto, levando em conta o entorno e o ambiente urbano, além da compreensão maior do conjunto de disciplinas envolvidas no processo de projetar, sem perder o foco no conhecimento especializado.
Saiba mais sobre a ProAcústica – www.proacustica.org.br
A ProAcústica Associação Brasileira para a Qualidade Acústica é um entidade civil sem fins lucrativos que tem por finalidade congregar empresas e profissionais objetivando o desenvolvimento da Acústica Aplicada no Brasil, campo que abrange também a Ciência das Vibrações e, divulgar para toda a sociedade a importância da qualidade acústica nas edificações e no meio ambiente. Criada em março de 2011 para estimular iniciativas de combate à poluição sonora nas grandes cidades brasileiras, a ProAcústica reúne profissionais do setor de conforto sonoro ambiental, fabricantes de produtos acústicos, escritórios de arquitetura, de projetos e de consultoria em acústica, além de empresas de instalação e distribuição, laboratórios e construtoras.
A entidade pretende colaborar com a criação, revisão e desenvolvimento de normas técnicas, de normas para materiais e aplicações acústicas com padrões mínimos de qualidade; além de demonstrar para a sociedade a importância das soluções acústicas para a saúde e qualidade de vida. O conforto acústico também é item imprescindível no da sustentabilidade dos empreendimentos e do meio ambiente.