O desempenho acústico um ano após a publicação da NBR 15575
A Norma de Desempenho, em exigibilidade desde julho de 2013, é um dos instrumentos para a melhoria da especificação, do projeto e da construção, com impactos positivos e grande destaque no conforto acústico das edificações habitacionais.
Que a entrada em vigor, há um ano, da NBR 15575 foi decisiva para agregar conforto acústico às construções, não há dúvida. Essa é a opinião do presidente da ProAcústica, Davi Akkerman. Para ele, a Norma de Desempenho, em exigibilidade desde julho de 2013, é um dos instrumentos para a melhoria da especificação, do projeto e da construção, que teve grande destaque no quesito conforto acústico. “Será preciso que todos os agentes envolvidos incorporem efetivamente essa nova cultura às práticas de desenvolvimento de novos projetos e empreendimentos residenciais e, assim, agregar de fato, o conforto acústico às construções”, declara.
No entanto, diz Akkerman, a indústria fornecedora da construção civil deve se aprimorar na caracterização de seus produtos e sistemas, por meio de ensaios que demonstrem o desempenho de cada um. “As construtoras, por sua vez, estão buscando incorporar as soluções acústicas no dia a dia de seus projetos e obras, de maneira a atender ao que prescreve a norma. De forma geral, todos têm muitas adaptações a fazer neste processo de apropriação e aplicação da Norma de Desempenho, a fim de garantir o resultado mais adequado e assegurar o direito dos consumidores”, pondera o presidente da ProAcústica.
Ao mesmo tempo, ele acredita que a sociedade já vem tomando consciência do seu direito ao conforto acústico dentro de casa. Apesar da grande dificuldade de saber para quem reclamar, os usuários vêm manifestando há tempos suas insatisfações com o desconforto acústico nos edifícios residenciais. “Mas, de uma forma geral, a tomada de consciência do direito ao conforto acústico vem acompanhado de um processo de educação, informação e esclarecimento. Todos os envolvidos precisam contribuir para que a qualidade acústica nas edificações, e no meio ambiente, contribua de fato para a melhoria do bem-estar e da saúde pública, direito de todo cidadão”, afirma.
Em termos de soluções de projeto, Akkerman destaca que não é necessário nada de muito novo. O mercado deve se preparar para especificar as soluções mais adequadas nos diferentes tipos de projetos arquitetônicos para adaptação às exigências normativas. Outra medida importante é caracterização da “paisagem acústica” dos terrenos e entornos dos futuros empreendimentos, estudo que ajuda a definir quais as soluções para fachadas, vedações e medidas para atenuação dos ruídos locais. “Somente para o segmento econômico é que há uma demanda maior de inovações em relação ao desempenho de pisos relativos aos ruídos de impacto”.
No Brasil, ainda há um desconhecimento sobre como especificar desempenho e à respeito dos requisitos de acústica. Nesse momento inicial da exigibilidade da Norma de Desempenho, ainda há muitas dúvidas a respeito da quantificação e das soluções acústicas para alcançar as exigências. Será preciso um grande esforço da cadeia produtiva da construção no sentido de caracterizar produtos e sistemas. Será preciso, por exemplo, ensaiar não apenas o bloco de alvenaria, mas o sistema de parede, com todos os intervenientes, como janelas, portas e os demais componentes, a fim de obter o desempenho acústico real da tipologia adotada. Os projetistas terão de especificar com mais conhecimento e os fabricantes terão de adquirir a cultura do ensaio, a fim de definir níveis de desempenho de seus produtos e sistemas.
Atualmente, com a NBR 15575 profissionais de projeto estão, de fato, diante de uma questão inerente à sua atividade, avalia o presidente da ProAcústica, que é a responsabilidade técnica pelo que projetam e especificam. “As construtoras, por sua vez, responsáveis pela viabilização dos projetos, precisam garantir o desempenho do que executam. A cadeia de fornecedores também está em uma situação de pressão para atender às novas necessidades de mercado, principalmente os fabricantes de portas, janelas e blocos de alvenaria, que precisam desenvolver soluções e ensaiar seus produtos”, ressalta. E acrescenta que o setor de consultoria em acústica está sendo demandado para propor soluções. “No mínimo, uma consultoria de acústica deve estar contemplada nos empreendimentos para verificação e classificação objetiva dos terrenos e verificação e adequação das vedações externas e internas”, afirma.
Comprovação por ensaios
Para Silvio Gava, diretor executivo Técnico e de Sustentabilidade da Even, algumas construtoras estão preparadas e atentas às alterações necessárias. “As grandes construtoras estão engajadas e em pleno processo de atendimento e adaptação de seus projetos. Mas, num mercado pulverizado como o nosso o sucesso da norma dependerá, em grande parte, da fiscalização, para que as empresas sérias não arquem sozinhas com esse custo”, compara.
“Devem ser realizados inúmeros ensaios técnicos para que a adoção das alterações trazidas pela Norma de Desempenho seja assertiva. Questões importantes se destacam, como a análise dos materiais de vedação e caixilhos, que interferem significativamente na acústica. No entanto, escolhas como caixilhos com grandes dimensões, se mal estudadas, podem ajudar no quesito iluminação natural, mas prejudicar a acústica”.
Gava lembra que adequação da Norma de Desempenho remete ainda a estudos e ensaios técnicos de vários sistemas in loco, o que demanda tempo. “Na Even, estamos realizando testes há mais de um ano para compreender melhor o que devemos, ou não, adotar para cada tipo de produto imobiliário”, informa.
Para ele, tem havido inclusive necessidade de repensar os padrões construtivos e, também, treinar os profissionais envolvidos no projeto e construção dos empreendimentos. “É preciso entender o comportamento dos sistemas frente à Norma, inclusive com questionamento de itens pouco objetivos da NBR 15575”.
Sem os devidos ensaios, não se consegue definir adequadamente o desempenho de materiais e produtos que promovem o conforto acústico. E o resultado só será visto no final da obra. “Quanto aos materiais, nossa área de suprimentos tem feito exigência de ensaios específicos. Vale lembrar que a Norma de Desempenho é lastreada e remete a muitas outras normas técnicas existentes. Portanto, muitos fabricantes já atendem a vários requisitos”, acrescenta Gava.
Outro ponto fundamental, lembra Gava, é que as unidades sofrem interferências do usuário, por vezes, não profissional, em termos de reformas e decoração. “Com isso, fica difícil garantir o desempenho e, portanto, essas intervenções devem ser pensadas com antecipação. Na Even, temos um padrão de atendimento que vai desde a entrada do cliente nos estandes de vendas, para compreender suas reais necessidades. Por isso, fornecemos serviços que reduzam os impactos no pós-venda, como adequações de acabamentos e layouts, e visitas antecipadas em unidades para medições, por exemplo”, afirma.
Segundo Gava, a variação de custos devido ao atendimento da NBR 15575 depende muito do estágio de desenvolvimento tecnológico em que a construtora está, podendo aumentar de 2% a 5%. “No caso da Even, pelo fato de termos a certificação ‘Empreendedor Aqua’, desde 2012, em todas as obras residenciais, a diferença de custo é muito menor do que para uma empresa que não adotou qualquer certificação ‘sistêmica’, em seus processos. Para Even, a questão da existência da norma nivelará melhor as empresas. A escala na régua subiu”, opina.
Norma sistêmica
Para Carlos Borges, presidente-executivo da Tarjab, e coordenador da primeira fase da Comissão de Estudos da Norma de Desempenho, as exigências de qualidade aumentaram. “Considero esse fato muito positivo para a sociedade e para o setor da construção civil. A publicação da Norma é um divisor de águas na produção de imóveis no país. Eu trabalhei durante muitos anos para que a Norma fosse publicada. Fui um dos coordenadores da Comissão de Estudos que elaborou o texto que depois virou norma”, conta.
Borges afirma que a Tarjab vem trabalhando há bastante tempo para o atendimento integral da Norma de Desempenho, inclusive em conjunto com outras empresas do setor. “Os destaques da norma são alguns itens que eram pouco considerados pelos projetistas, como desempenho acústico, térmico, lumínico, conforto tátil e antropodinâmico (adaptado às capacidades humanas). E especialmente a vida útil, que considero o item mais importante. A durabilidade dos edifícios é essencial para a boa utilização dos recursos públicos que financiam a maioria dos empreendimentos no Brasil, e também por questões sociais e ambientais”, acrescenta.
De acordo com Borges, a NBR 15575 é complexa e em muitas situações remete a quase 200 normas nacionais e internacionais já vigentes. O item mais comentado, que é o desempenho acústico, mostra a grande vantagem da norma, pois ela permite sempre uma aferição objetiva se a qualidade foi atendida ou não. Há muitos outros itens como estanqueidade, manutenibilidade, segurança contra incêndio, entre outros, que poderão apresentar não conformidades se não houver um cuidado por parte dos projetistas e construtores”, explica.
Já Alexandre Oliveira, membro do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ) do Sinduscon-SP, diz que com a vigência da Norma de Desempenho, que trata de sistemas, há uma exigência de que os projetistas demonstrem claramente em seus projetos qual o desempenho esperado pelo sistema dentro de um todo. “Do ponto de vista do usuário ele deve ser informado sobre quais ações preventivas tomar para que tanto o desempenho quanto a vida útil sejam atingidas. Para que o desempenho definido seja atingido, as construtoras devem conhecer não somente os produtos e sistemas, mas a soma deles”, destaca. Portanto, diz Oliveira, a diferença é que anteriormente se podia atingir as exigências de qualidade nos diferentes produtos que compõem a construção, mas não um desempenho total satisfatório, principalmente os que afetam o cliente final, que tratam de conforto, como é o caso da acústica.
Ele lembra que além dos investimentos da indústria da construção civil na qualidade dos projetos, sistemas construtivos e tecnologia, há a necessidade dos usuários, proprietários e gestores se conscientizarem do papel fundamental que exercem sobre o desempenho das edificações. “A manutenção periódica e planejada, que é de responsabilidade dos proprietários, usuários, síndicos e gestores, além de mais barata que o reparo, evita outros tipos de problemas, como a responsabilidade criminal e civil, de acordo com a NBR 5674 – Manutenção de Edificações”, adverte.