Consultora da Tendências sugere que setor de Acústica aumente investimentos
Em análise sobre o mercado da construção civil e sobre da economia mundial e nacional, a economista Amaryllis Romano diz que por seu caráter inovador, o mercado de Acústica crescerá mesmo com a economia em queda, pois atualmente há maior demanda por seus produtos e serviços. Leia a seguir o diagnóstico econômico da consultora sobre os desafios e perspectivas no atual cenário de crise apresentado durante evento da ProAcústica “O Mercado de Acústica No Brasil: Cenário & Perspectivas”, realizado em final de agosto.
A economista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, graduada pela FEA-USP, com MBA pelo IBMEC-SP e em Administração pela FGV, fez uma análise sobre o mercado da construção civil e sobre da economia mundial e nacional durante evento da ProAcústica “O Mercado de Acústica No Brasil: Cenário & Perspectivas”, realizado em final de agosto.
Segundo as previsões da consultora, a atividade da construção, medida pela produção de insumos típicos do setor, caiu 9,6% no primeiro semestre de 2015, frente mesmo período do ano passado. O PIB da construção caiu, na comparação anual, 2,9% no primeiro semestre, além de 8,2% no segundo trimestre, resultando em uma queda total de 10,9%.
Diante desse quadro desanimador, Amaryllis mostrou que o segmento de Acústica aparece como um ponto fora da curva diante da crise, principalmente pela introdução da Norma de Desempenho (NBR 15.575), que tem força de lei e prevê níveis de conforto acústico para as unidades habitacionais. “Possivelmente o mercado de Acústica, dado seu caráter inovador na construção nacional, crescerá mesmo com o mercado total em queda, pois há mais demanda por produtos e serviços nessa área. E a perspectiva é de que este cenário perdure ainda por algum tempo, especialmente na medida em que ocorram inovações introduzidas pelo setor de acústica”, analisa Amaryllis. Leia a seguir o diagnóstico econômico da consultora sobre os desafios e perspectivas no atual cenário de crise.
Com o cenário internacional se complicando, por causa da redução de crescimento da China, como fica o Brasil?
A desaceleração da economia da China tem grande impacto, especialmente em países muito dependentes de exportação de commodities, sejam elas agrícolas ou industriais. A redução no ritmo de compras da China impõe uma tendência baixista aos preços internacionais, prejudicando as exportações de outros países. Neste sentido, o período de bonança interna no Brasil, financiado por transferência de renda externa acabou, de sorte que devemos passar a conviver com taxas de crescimento de renda e, consequentemente, de consumo interno bem menores que em 2012/13.
Quais os efeitos desse cenário na economia brasileira?
A questão da valorização do dólar frente a outras moedas ocorre com toda a expectativa de elevação da taxa de juros nos EUA, uma vez que parecem ultrapassados os problemas derivados da crise internacional de 2008 naquele mercado. A liquidez internacional está preparada para se transferir para o mercado financeiro norte-americano, valorizando a moeda mais procurada, o que implica pressão de queda de preços internacionais em dólar.
Há também capacidade ociosa na maioria das indústrias mundo afora, desde a crise de 2008, pois o consumo global ainda não se recuperou totalmente, sendo que é preciso destacar que tal crise ocorreu em um momento de maturação de grandes investimentos em ampliação de capacidade em vários ramos da indústria mundial. A isso se soma, mais recentemente, a recuperação da oferta agropecuária, após alguns anos de problemas de clima em diferentes regiões do globo.
Ou seja, há vários focos de pressão baixista sobre preços internacionais, o que prejudica bastante a perspectiva de retomada da economia brasileira que, por sua vez, não aproveitou o período de bonança externa para fazer sua lição de casa. Hoje se encontra com um parque industrial relativamente desatualizado, e com problemas de produtividade, o que reduz nossa competitividade, mesmo com a robusta desvalorização do real frente ao dólar. Assim, estamos vivendo um clima extremamente desfavorável para investimentos domésticos, renda e emprego, o que tem efeitos muito fortes sobre o setor da construção.
O cenário doméstico se complica a cada dia, com a paralisia do governo, suas ações desastradas, e aumento da dívida pública. Como fica a construção civil brasileira neste contexto?
Este quadro reflete os erros de politica econômica dos governos petistas que priorizaram consumo e renda sobre a produção, competitividade e eficiência, negligenciando especialmente a área fiscal. A construção é o primeiro setor a sentir o baque da falência desse modelo, cujas consequências devem ser sentidas ainda por um bom tempo.
Além da via da retração da renda, que inibe investimentos imobiliários, há a questão da perda de confiança dos agentes econômicos, inibindo investimentos em ampliação de capacidade e em infraestrutura. Sobre isso ainda há os efeitos da deflagração da operação Lava a Jato, que atingiu as principais empresas que atuam no setor, cujo final ainda parece estar longe. Tudo isso também prejudica muito a concessão de crédito o que é fundamental para os empreendimentos da construção civil, que se caracterizam por montantes elevados e longo prazo de maturação.
Quais seriam os setores na construção civil que podem ter um melhor desempenho? E quais podem ter maior queda? Em quanto está a participação da construção no PIB brasileiro?
No período mais próximo acredito que o setor de infraestrutura vá sentir muito, apesar de o imobiliário acompanhar também esses efeitos. A queda de investimentos é muito forte, pois além dos efeitos diretos de paralização das empresas do setor por causa da Lava Jato, há a questão da perda do grau de investimento do país, o que prejudica a captação externa, fundamental frente devido ao nosso baixíssimo nível de poupança interna. A participação da construção no PIB total deve cair da média de 6,5% vigente entre 2010 e 2014 para algo mais próximo a 6,2%, mas há que se levar em conta a queda esperada no próprio PIB.
Como recuperar a confiança dos agentes dos vários segmentos econômicos e em particular da construção civil diante da queda de 1,9% do PIB nacional no segundo trimestre?
É o mesmo caminho da recuperação da confiança na economia como um todo. Responsabilidade fiscal, política de cambio flutuante e, principalmente, um Banco Central que persiga a meta de inflação próxima aos 4,5%. Parece impossível, mas caminhar neste sentido, chegando perto dos 5,5% já seria um grande avanço. A situação politica instável vem prejudicando estas metas e deve continuar a prejudicar.
Até agora, de quanto foi a queda na atividade da construção civil? E quanto ao emprego na construção?
A atividade da construção quando medida pela produção de insumos típicos do setor caiu 9,6% no primeiro semestre deste ano, frente aos primeiros seis meses de 2014. O PIB da construção caiu na comparação anual, 2,9% no primeiro semestre, além de 8,2% no segundo trimestre, resultando em um total de -10,9%. Já o emprego vem caindo consistentemente e até julho ocorreu o fechamento de 152,7 mil vagas na construção civil, o equivalente a 67% do total de vagas destruídas na indústria de transformação. Nossa projeção para o ICC é de queda de 9,9% neste ano e de 1% para 2016. O PIB nacional deve ter queda de, respectivamente, 7,8% e 1,4%.
Para este ano, quais as previsões relativas aos níveis de atividade e de emprego na construção? E para o ano que vem?
A expectativa é de que o emprego na construção recue 3,8% neste ano, sendo que estamos ainda revisando para baixo a estimativa para 2016, mas certamente o resultado ainda é de fechamento de vagas. Melhorias, só a partir de 2017.
Quais os impactos da operação Lava Jato sobre investimentos na construção e no país como um todo?
Inicialmente, durante o primeiro trimestre, nossa conta era de uma redução direta de 1 ponto porcentual do PIB, apenas em função da Lava Jato. Atualmente, com o aprofundamento dos desdobramentos desta operação e com a queda muito mais acentuada na confiança, e na atividade propriamente dita, este cálculo esta mais difícil, mas certamente já ultrapassou o 1 ponto porcentual.
Quais as perspectivas para o mercado imobiliário para este ano diante da desaceleração de preços, enfraquecimento das vendas e aumento dos estoques? Há como contornar essas condições desfavoráveis?
Difícil de contornar este cenário econômico tão adverso. Haverá um momento em que a desaceleração de preços de imóveis irá se tornar uma condicionante positiva da demanda, mas ainda estamos longe deste momento. As condições de emprego, renda e crédito dificultam muito uma retomada deste mercado no curto prazo.
A variável chave no curto prazo será a retomada da confiança dos agentes econômicos. A confiança do empresário da construção, medida pela CNI Confederação Nacional da Indústria ficou em 38,5 em julho deste ano, ante uma média de 57,46 vigente até dezembro de 2014. Nossa expectativa é de que em 2015 haja queda de 19,6% neste indicador seguida por estabilidade em 2016 (+0,2%). Desde o início da medição deste indicador, em 2010, todos os anos registraram quedas.
Qual a previsão para a taxa de desemprego no país este ano? Isso deverá se refletir fortemente no poder de compra dos consumidores, com consequente restrição ao crédito imobiliário. Qual sua análise sobre este panorama?
O quadro abaixo sintetiza nossas projeções sobre estas variáveis. O problema é a perda de poder de compra e da renda das famílias.
Fale um pouco sobre o trabalho da Tendências e da Criactive sobre Índice de Atividade da Construção Imobiliária (IACI), e dos índices que fazem parte do Monitor da Construção Civil (MCC)?
A Tendências inaugurou o acompanhamento do setor da construção civil há 15 anos. A ausência de dados sistemáticos e da totalidade do território nacional sempre nos preocupou. Mas como não somos especializados em coleta de dados primários, trabalhávamos com os dados disponíveis. A partir de um projeto particular, entramos em contato com a excelente base de dados da Criactive (o SIM) e acreditamos que a partir disso seria possível construir um indicador mais adequado para o mercado imobiliário e, principalmente, mais ágil e amplo em termos de abrangência territorial.
A Criactive é uma empresa especializada em pesquisas mercadológicas e comerciais no setor da construção civil. Há 11 anos produz conhecimento qualificado, com forte experiência no entendimento da dinâmica, dos players e das tecnologias envolvidas nessa cadeia produtiva. Juntando este expertise com o da Tendências, a partir das informações disponíveis, são feitos diversos ajustes na base e na construção dos índices, para que eles sirvam como uma régua de medição do nível de atividade na construção civil. A partir da combinação das informações de cada obra é possível construirmos milhares de índices. Para o MCC foram definidos 420 indicadores.
Quais os valores levantados do IACI e do MCC até agosto e as projeções para o fim do ano?
O IACI de agosto mostrou queda em agosto perante julho (-0,5%), considerando os dados livres de efeitos sazonais. Na comparação com agosto de 2014, o índice registrou retração de 10,7%. Com o resultado, a atividade da construção imobiliária registra queda de 13% no acumulado até agosto deste ano, ante o mesmo período do ano passado. No acumulado de 12 meses, o nível fraco da metragem total em construção intensifica-se e mostra queda de 12,7% em agosto, ante a queda era de 12,5% em julho.
Na composição do índice, os indicadores de fundação (IACI-F) e estrutura mostraram alta na margem, enquanto o de fase de acabamento registrou queda na mesma base de comparação. Apesar do crescimento na margem do IACI-F, o nível ainda baixo do indicador (-29,3% no acumulado em 12 meses) e a conjuntura bastante desfavorável, com elevado grau de incerteza, seguem como fator de alerta, pois podem limitar o impulso positivo desta fase sobre as demais (estrutura e acabamento).
Já o índice de lançamentos (IACI-L), que tem maior defasagem e mede a área total dos empreendimentos lançados no país, apresentou queda de 9,6% na margem e 38,6% ante junho de 2014. Entre janeiro e junho, o IACI-L acumula retração de 37,0% na comparação anual. No acumulado em 12 meses, o indicador mostra queda de 26,2%, um indicativo de fraqueza para a construção nos próximos meses. Entre os tipos de obra, a retração é mais intensa nas comerciais e de turismo, com quedas de, respectivamente, 69,7% e 69,8% na média em 12 meses. A expectativa par o restante do ano é de manutenção da queda na atividade da construção imobiliária nacional.
O setor de acústica aparece como um ponto fora da curva diante da crise. Por que isso ocorre? Quais as perspectivas para esse setor e as recomendações aos empresários e profissionais de acústica?
Possivelmente o mercado de acústica, dado seu caráter inovador na construção nacional, cresce mesmo com o mercado total em queda. Ou seja, mesmo com uma menor metragem em construção, comparativamente aos anos anteriores se utiliza mais materiais acústicos por m2. E a perspectiva é de que este cenário perdure ainda por algum tempo, especialmente na medida em que ocorram inovações introduzidas pelo setor de acústica. O aumento do grau de preocupação com o meio ambiente e sustentabilidade embasam este cenário mais promissor.
Como se diz, crise também é sinônimo de oportunidades. Quais seriam essas oportunidades para a construção civil como um todo e em especial para o setor de acústica?
Conforme já apontado, por se tratar de um mercado de certa forma inovador, as perspectivas são excelentes para produção de materiais acústicos para construção civil. Acredito que a cadeia produtiva de acústica deveria manter ou aumentar o nível de seus investimentos, visando ampliar ainda mais sua penetração em todos os ramos da construção civil. Sabemos que mesmo em períodos de crise aguda há uma parcela de empreendimentos muito menos afetados e que podem oferecer uma base sólida para evolução desses materiais. Inovar em materiais e tecnologias, mesmo na crise, é uma estratégia normalmente vencedora.