Profissionais discutem os rumos do Mapa do Ruído de São Paulo
A Prefeitura de São Paulo sancionou a Lei 16499 que dispõe sobre a elaboração do Mapa do Ruído Urbano. A sociedade ganha uma oportunidade de discutir o assunto, os profissionais precisam definir uma metodologia para criar uma interface sólida com base em um projeto piloto modelo e as instituições necessitam de articulações técnicas e políticas para identificar a origem dos recursos financeiros e dar início à árdua tarefa; a ProAcústica News reuniu profissionais ligados ao tema para uma troca de ideias. Acompanhe.
Teleconferência |
O encontro, realizado em São Paulo, via teleconferência foi mediado por Marcos Holtz, coordenador do Comitê Acústica Ambiental da ProAcústica e diretor da Harmonia Acústica, e contou com a participação, em Portugal, de José Luís Bento Coelho, professor e membro do Instituto Internacional de Acústica e Vibração e do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa; Alex Kenya Abiko, professor titular em gestão urbana e habitacional da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; Marcelo de Mello Aquilino, pesquisador do laboratório de conforto ambiental e sustentabilidade dos edifícios do CETAC, Centro Tecnológico do Ambiente Construído do IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas; Gilberto Fuchs, diretor comercial da Grom Acústica & Vibração; Nicolas Isnard, diretor de negócios da 01dB Acoem e Denison de Oliveira, gerente regional da Brüel & Kjaer Sound & Vibration.
A teleconferência não partiu do zero. Deu continuidade aos trabalhos de parte do grupo multidisciplinar formado por representantes de diversos setores da sociedade que assessorou e acompanhou os debates sobre o mapa do ruído que gestou a Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora, realizada na Câmara Municipal de São Paulo, sempre no mês de abril entre os anos de 2013 e 2015. O grupo representa parte dos diferentes segmentos da sociedade impactados pela problemática da poluição sonora, além daqueles com a expertise técnica necessária para assessorar a Prefeitura Municipal de São Paulo e as secretarias, na efetivação e aplicação da lei.
Marcos Holtz | Bento Coelho |
O arquiteto Marcos Holtz começou perguntando a todos como encaram a aprovação da Lei do Mapa do Ruído. O primeiro a falar foi José Luís Bento Coelho que revelou estar “muito satisfeito em ver a aprovação Municipal da lei sobre o mapa do ruído”. O professor Bento lembrou que, em outras partes do mundo, já foram feitos muitos mapas do ruído e que seria recomendável aproveitar essas experiências e essas sinergias para melhorar custos, prazos e otimizar processos. Bento conhece São Paulo e o conjunto de fontes de ruídos da cidade, mas a proveniente do tráfego deve ser a dominante. “Hoje, existem recursos tecnológicos sofisticados e o mais importante é a definição e ponto de partida da melhor metodologia para implantação dos mapeamentos”, afirmou.
Gilberto Fuchs | Denison de Oliveira | Nícolas Isnard |
Sobre os recursos tecnológicos, falaram representantes de empresas de três ferramentas de simulação computacional: o SoundPlan (da Grow) o DataKustik Cadna (da 01dB) e o Predictor-LimA (da Brüel & Kjaer). Gilberto Fuchs, representante da Grow, advertiu que o som não para de uma rua para a outra. “O som que se calculou para uma determinada região se propaga para uma região vizinha que ainda não foi calculado e vice-versa. Então, a necessidade de se estabelecer uma metodologia de ‘juntar pedaços’ é fundamental”. De acordo com Fuchs, em São Paulo, existem muitas vias suspensas, viadutos e pontes com interseções em diferentes níveis que são complicadores numa futura simulação, onde entram o volume de tráfego, a velocidade e a composição da frota. Para Fuchs, “falta uma calibração mais precisa da frota brasileira; as motos brasileiras são mais barulhentas e as normas não separam motos de veículos leves; os ônibus e caminhões também são barulhentos; a frota é mais antiga mas daria para modificar o banco de dados de fontes e melhorar essa incerteza de cálculo”.
Na Europa, os modelos e normas de propagação sonora rodam há mais de 20 ou 30 anos e os programas de simulação evoluíram até o estágio da computação em nuvem. Nicolas Isnard, diretor de negócios da 01dB Acoem, assegura que hoje podemos importar a topografia e os nomes de ruas de uma cidade inteira em pouco tempo. “Já fizemos testes na Avenida Paulista e conseguimos realizar a importação do modelo da região em menos de dez minutos. Não é um bicho de sete cabeças.” Segundo Isnard ficou mais fácil publicar essas informações online o que permite o acesso à informação e aos dados acústicos do mapa de ruído. Para Denison de Oliveira, gerente regional da Brüel & Kjaer, em breve, será possível falar de monitoramento online. “Vamos acessar o ruído na Avenida Paulista, na construção X ou na construção Y ou mesmo numa estação de metrô ou de trem”, seguindo um sistema chamado Noise Sentinel, também baseado em nuvem.
Mesmo com essas facilidades tecnológicas, o professor Bento lembrou que é preciso ter em mente que o mapa do ruído – um processo complexo e vasto – pode demorar algum tempo e exigir muito esforço. Uma das grandes preocupações é o prazo. Marcelo Aquilino do IPT bateu nessa tecla: “Apesar de serem sete anos, para uma cidade da magnitude de São Paulo, não podemos esperar muito tempo para iniciar”, advertiu o pesquisador. Aquilino lembrou que “áreas da cidade de São Paulo, como os Jardins, a Avenida Paulista e os bairros mais nobres têm algumas informações mapeadas e contabilizadas. Mas na zona leste, nas zonas mais distantes da cidade, vamos encontrar vazios de dados”. Para ele, o mapa do ruído só tem sentido se for permanente. Não pode ser algo que para fazer uma vez e não alimentar mais. Tem de ser retroalimentado.
A Escola Politécnica vem trabalhando questões com a da alimentação e retroalimentação de grandes volumes de informações (os big datas) e a automação das cidades, para resolver problemas como o da mobilidade urbana (as smart cities). Alex Abiko, professor titular em gestão urbana e habitacional da
Politécnica, sugeriu que o mapa do ruído poderia “conversar” com o GeoSampa, um sistema aberto para todos os cidadãos com o mapeamento da cidade, que está dentro da secretaria de Desenvolvimento Urbano. Abiko chamou a atenção para o funding do mapa do ruído. “Nós, na universidade, temos acesso e usamos recursos financeiros da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo ou da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia ou de outras agências como, por exemplo, a ABDI – Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Então, temos que pensar algumas possibilidades, além da questão do desenvolvimento técnico. E a questão financeira é muito importante”, salientou Abiko. Para o professor da Politécnica os problemas acústicos da cidade precisam estar mergulhados numa visão mais geral do planejamento urbano.
Da esquerda para a direita: Eduardo Gomes, Alzira Hisgail e Renato Schroeder|
A maioria dos participantes sentiu a necessidade de um “ponto focal”, nas palavras de Alex Abiko, dentro da prefeitura de São Paulo. “Seria a secretaria de Desenvolvimento Urbano? A Secretaria de Habitação? Não sabemos.” Por essa razão, os debatedores sugeriram oficializar a formação do Comitê Mapa de Ruído ou Grupo de Trabalho Conferência (constituído por outros setores que não estiveram presentes neste encontro como SindsuconSP, SecoviSP, PSIU e Gabinetes de Vereadores), para coordenar a articulação política junto ao poder público municipal. A idéia de aproximar o conhecimento do grupo no sentido de assessorar a Prefeitura Municipal de São Paulo e os respectivos técnicos das diversas secretarias poderia efetivar a aplicação da Lei.