Quais as novas demandas do setor de acústica no mercado imobiliário após a pandemia?
A crise sanitária colocou à prova a eficiência das edificações dos grandes conglomerados urbanos em todos os quesitos. A ocupação máxima e por longos períodos causados pela necessidade de isolamento social obrigou as pessoas a conhecerem na prática a importância do desempenho em conforto acústico, lumínico, térmico e ergométrico das edificações. Como resposta, em São Paulo, uma incorporadora anunciou, para as plantas dos apartamentos residenciais, a adoção do espaço home office em todos os novos produtos. Afinal, nessa possível configuração social com novos cuidados com as rotinas sanitárias, qual será o papel da acústica nos produtos imobiliários? Quais serão, por exemplo, os impactos nas normas que regem o setor a partir das recentes exigências da sociedade?
A ProAcústica foi ouvir especialistas para tentar entender se o mercado já conseguiu colocar as inúmeras variáveis que envolvem a questão em uma sequência lógica e inteligível. Se as empresas da construção civil, por meio das pesquisas de mercado, estão entendendo realmente o “novo normal” como uma demanda de mercado. E se a indústria da construção brasileira, após grande impacto das crises econômicas de antes e durante a pandemia, manteve capacidade tecnológica para dar respostas a essas questões.
O setor de acústica está enfrentando a crise de forma positiva e há perspectivas de crescimento. Andrea Destefani, da CA2 Consultoria e Projetos, salienta que o segmento é influenciado diretamente pelo desempenho do setor da construção, que também está se readequando. “Acredito que, apesar das dificuldades, o setor está reagindo bem e com boas perspectivas. As demandas por conforto têm estado cada vez mais em evidência, principalmente por conta dos novos cuidados necessários com a qualidade do ar interno”.
Vítor Litwinczik, diretor da Anima Acústica, de Florianópolis/SC, notou um aumento de demanda de pessoas físicas querendo resolver problemas com os vizinhos e percebeu maior procura por estudos de conforto térmico e lumínico por parte das construtoras. “Não percebemos demanda específica para home office, mas para projetos como um todo. Há uma leve preocupação com os ambientes de uso coletivo como salões de festas”.
Na avaliação sobre aumento da demanda por conforto acústico, Lineu Passeri Junior, diretor da Passeri & Associados, afirma que houve aumento, mas o maior problema foi decorrente do incômodo do ruído transmitido entre apartamentos vizinhos sobrepostos. E que os projetos dos novos empreendimentos trarão outras abordagens de conforto, não somente para espaços de home office. “De forma geral, o problema é sentido também em dormitórios e ambientes de estar”, segundo Passeri.
A CA2 teve aumento significativo nas solicitações de consultoria, tanto para proprietários que estão ficando mais tempo em casa, como para incorporadoras e construtoras que estão mais preocupadas com as questões de conforto durante a pandemia. Segundo Destefani, as questões de acústica em residências são diversas, desde ruído dos vizinhos, instalações prediais até de trânsito, aeronaves, manifestações culturais etc. “Os usuários estão procurando soluções para estes diferentes problemas para todos os ambientes da residência”, ressalta Destefani.
A importância do desempenho acústico em edificações pode estar passando por uma segunda onda na visão da opinião pública, explica Litwinczik. “A primeira foi impulsionada pela imprensa em função da publicação da Norma de Desempenho ABNT NBR 15575. A segunda onda está sendo impulsionada pelo próprio usuário que agora, por causa do isolamento social, tem maior percepção de como é realmente a vida em condomínio”, esclarece.
Genioli, da R.Yazbek, afirma que a NBR 15575, com sua notoriedade, criou uma regra de padrão de desempenho mínimo para todos os critérios, em especial para a acústica, o que gerou uma padronização nos produtos disponíveis no mercado. Segundo ele, os critérios estabelecidos para acústica são adequados à realidade, mesmo agora na pandemia. “A realidade de São Paulo é muito específica e sem similaridade com o restante do país. Portanto, mudar qualquer regra acústica para adequar às percepções específicas pode afetar o poder de compra da população, especialmente agora que a taxa de juros está em menor patamar e melhorou a possibilidade para os brasileiros adquirirem imóveis. Mas, a forma de morar certamente sofrerá mudanças, ressalta Genioli.
Na relação com empreendedores do mercado imobiliário, muitas vezes, a visão sobre o conforto acústico é diferente. Segundo Luiz Henrique Ferreira, diretor da Inovatech Engenharia, houve aumento da demanda por mais conforto nos produtos imobiliários, porém, a necessidade ainda está muito ligada ao atendimento à ABNT NBR 15575, no nível mínimo.
“O mercado ainda confunde consultoria em conforto com `laudo de acústica´, ´laudo de térmica´, e ´laudo de lumínico ´”. Nesse contexto, é fundamental deixar claro a diferença entre consultoria – que orienta desempenho por meio de soluções – e o papel de um laboratório, que atesta desempenho através de laudos”, explica Ferreira.
A Norma de Desempenho NBR 15575 trata dos níveis de desempenho acústico de paredes externas, esquadrias de dormitórios, divisórias internas entre unidades e espaços internos e portas que separam unidades; além dos sistemas de pisos com relação ao ruído aéreo e de impacto. A norma define níveis mínimos, intermediários e superiores de desempenho acústico para a construção de unidades habitacionais.
Imagens de empreendimentos:
+ Home Spot – Vila Clementino (Setin)
+ You, Oscar Freire (you, inc)
Em contribuição com boa convivência sonora entre vizinhos, a ProAcústica lançou em maio um guia com soluções simples que ajudam com orientações que as rotinas individuais não impactem as atividades coletivas e deixem de gerar atritos em um momento de isolamento social. As situações exemplificadas no material foram estruturadas para tentar contribuir com o momento delicado.
Para download do guia, acesse aqui