Quartel-general da Disney América Latina contrata projeto de acústica de escritório brasileiro
A Giner, empresa de áudio e acústica de São Paulo associada ProAcústica, entregou, em outubro, 1.800 m2 de área construída divididos em 44 espaços, localizado na Argentina, a 47 quilômetros de Buenos Aires. O projeto abrange 23 ilhas de edição de vídeo, dez estúdios Pro Tools para dublagem e voz em off, uma rádio com dois estúdios e nove salas técnicas. Mas a joia da coroa é a sala de projeções para exibir os novos filmes e desenhos à mídia especializada e parceiros de negócios com a nova tecnologia de exibição Dolby Atmo.
Em quase um século, a The Walt Disney Company – o conglomerado de entretenimento e mídia de massa fundado em 1923, em Burbank, Califórnia, para produzir curtas de animação e quadrinhos – viu crescer as indústrias de filmes de longa-metragem, séries de TV, parques temáticos, hotéis e resorts, teatro, rádio, música, editoração, mídia online e produtos de consumo. Hoje, planeja construir postos avançados do estado-maior do comandante Mickey em todos os continentes do planeta, a começar pela América Latina. E o primeiro local escolhido foi Pilar a 47 quilômetros de Buenos Aires, na Argentina. Quando começaram as negociações para a contratação da engenharia eletroacústica, em novembro de 2014, às margens do acesso norte da Ruta 8, a estrutura do prédio já estava pronta. E esse foi o primeiro fator de complicação.
“A sala de projeções não era simétrica, não havia altura recomendada e grandes vigas invertidas obstruíam a visão”, comenta José Carlos Giner, engenheiro acústico da Giner de São Paulo, ao lembrar do espaço onde seria o futuro cinema da Disney Latin America, na Argentina. A Giner foi contratada para executar o projeto e a obra por indicação do diretor de facilities da Latam, satisfeito com a obra para a rádio Disney no World Trade Center, que a equipe de José Carlos, havia executado em 2009. O programa do quartel-general para a América Latina da Disney previa o uso de 24.000 m2 de área para 950 funcionários. Desse total, a Giner foi responsável por 1.800 m2 divididos em 44 espaços.
Além da acústica, a Giner ficou responsável pelo gerenciamento e obra de todas as disciplinas envolvidas nas áreas técnicas como ar-condicionado, elétrica, arquitetura e interiores. “O cliente precisava de uma sala de projeções com um conceito inovador, para exibir os novos filmes e desenhos à mídia especializada e parceiros de negócios com a recente tecnologia de exibição Dolby Atmos e deveria ser a cereja no bolo do empreendimento”, conclui Giner.
O projeto incluiu 23 ilhas de edição de vídeo, dez estúdios Pro Tools para dublagem e voz em off, uma rádio com dois estúdios e nove salas técnicas e o cinema, além do isolamento acústico das salas administrativas, da presidência e da vice-presidência. “Apesar dos 35 anos de mercado nessa
área, sentimos a necessidade de pesquisar o estado-da-arte dos recursos eletroacústicos e de áudio para introduzir no projeto”, revela o engenheiro. Giner visitou feiras de tecnologia de áudio e vídeo, na Holanda, Estados Unidos e Alemanha, durante dois anos. A arquitetura ficou a cargo do escritório de Alexandre Wissenbach que trabalhou em consórcio com um escritório local, condição imprescindível para traduzir e adaptar o projeto às normas e regras argentinas. Segundo Giner, a escolha da sede da Disney América Latina foi beneficiada pela situação econômica favorável dos primeiros meses do governo de Mauricio Macri. “O câmbio ajudou e, no governo anterior de Cristina de Kirchner, não tinha como importar
equipamentos”, relembra Giner.
Da fachada envidraçada dá para visualizar a rodovia e, entre os estúdios, ficaram preservadas as aberturas panorâmicas. Mesmo com a opção por divisórias de drywall com lã de vidro e o uso da madeira como protagonista – foram usadas entre 2 a 3 mil m2 de madeira – a arquitetura de interiores, digna de uma princesa Disney, não economizou nas cores. “Como a grande estrutura estava pronta, tivemos que fechar aqui e ali para conter vazamentos e manter o conforto acústico”, recorda Giner. A empresa optou por elementos que permitissem desacoplamento estrutural. Paredes, forros e pisos foram desacoplados da grande estrutura, o que ajudou a manter o grau de isolamento estrutural, com índices de redução sonora superiores a 55 dB. Um relatório técnico inicial comprovou o resultado das simulações de isolamento realizadas em programas como o SONarchiect ISO, WinFlag e CDM Solids.
O cinema – que recebeu atenção especial solicitada pela presidência – tinha que apresentar um desenho inovador, nunca antes utilizado em outras salas, e um novo conceito. A ideia principal foi conceber uma sala difusa em vez de absorvente e que as diversas caixas acústicas necessárias ao uso da tecnologia Dolby Atmos ficassem invisíveis aos espectadores. Para cumprir essa demanda, novos dispositivos acústicos foram projetados na Inglaterra e nos Estados Unidos. “Pedimos aos designers que nos ajudassem a desenhar algo inédito, para o controle dos campos sonoros e que fosse exclusivo” aponta Giner. Devida à geometria da sala difusa surgiram problemas nos pontos com concavidade, muito prejudiciais à acústica da sala. Foram resolvidos com novos elementos acústicos.
No projeto da rádio FM, estes mesmos elementos conferiram uma assinatura sônica às salas. “Muito bem aceita pelos ouvintes, que sentiram a mudança na sonoridade da rádio, segundo pesquisas realizadas pela emissora.” Com mais de 250 profissionais envolvidos, a obra, que começou em dezembro do ano passado, foi entregue em outubro deste ano.