Edificação do Colégio Renascença tem paredes de blocos de concreto de 19 centímetros que garantem isolamento
Para evitar a redução do entendimento e maximizar a inteligibilidade da fala, a sala não pode ser muito reverberante, uma preocupação que influenciou os acabamentos internos. Forros minerais, sob cobertura de laje, ajudam a manter o tempo de reverberação entre 0,4 e 0,6 segundos. As janelas com vedação hermética e perfis robustos, ganharam vidro laminado de 6 milímetros, em sanduíche de PVB para evitar a entrada de ruído externo.
Em agosto deste ano, o Colégio Renascença, uma instituição de ensino judaica quase centenária do Bom Retiro e Higienópolis, trasladou as instalações para uma área mais ampla próxima à marginal do rio Tietê, no antigo estacionamento onde funcionava o parque de diversões Playcenter. O complexo, formado por cinco blocos, requereu um levantamento do ruído com campanha de medições sonoras em campo e simulação eletrônica do ruído incidente nas futuras fachadas.
Fotos: LES Fotografia e Edgar Nascimento
O projeto de arquitetura e o projeto de fachadas andaram em conjunto, seguindo a norma da ABNT NBR 10152. “Pela dimensão do terreno, o projeto explora ao máximo a horizontalidade e a integração com as áreas internas abertas, com grande fluidez na circulação. Mas por uma questão de segurança, a implantação desfavoreceu a permeabilidade”, explica Jonas Birger, autor do projeto de arquitetura. “Assim, a questão acústica nasce resolvida pois as paredes de blocos de concreto de 19 centímetros garantem isolamento, em todo o perímetro da edificação”, completa Fernando Alcoragi, da Akkerman, escritório responsável pelo projeto de acústica do Renascença.
Construídos em estrutura de concreto armado, os blocos – com alturas entre dois e quatro pavimentos – atendem às funções e propósitos pedagógicos da vida escolar participativa. Com o conhecimento dos valores das medições em campo, o software identificou quais as incidências do ruído das fachadas de cada prédio e, assim, foi possível definir um plano de ação para dimensionar o isolamento acústico em cada fachada.
Para o conforto interno da sala de aula, ficou definido um máximo de 35 db RLAeq, separada por alvenaria de blocos e drywall com afastamento na localização das portas, além de lajes robustas, em concreto de 2,5 mil kg/m3 e pisos vinílicos para minimizar possíveis ruídos de impacto. Para evitar a redução do entendimento e maximizar a inteligibilidade da fala, a sala não pode ser muito reverberante, uma preocupação que influenciou os acabamentos internos. Forros minerais, sob cobertura de laje, ajudam a manter o tempo de reverberação entre 0,4 e 0,6 segundos. As janelas com vedação hermética e perfis robustos, ganharam vidro laminado de 6 milímetros, em sanduíche de PVB (polivinil butiral) para evitar a entrada de ruído externo. “No caso do ginásio poliesportivo, a lógica foi inversa: o ruído não pode sair da edificação e, no caso do teatro, os ruídos externos não podem interferir no interior do ambiente, nem podem sair para não atrapalhar as atividades pedagógicas”, salienta Fernando Alcoragi.
No ginásio, devido à preocupação com o ruído gerado pelas atividades esportivas, os fechamentos verticais e de cobertura foram alvo da consultoria acústica. Todo o perímetro é vedado ou com alvenaria ou com sistema de caixilhos com vidros laminados. “A cobertura não poderia ser construída com telha comum”, recorda Alcoragi. Por isso, foi especificada uma telha trapezoidal termoacústica, tipo sanduíche, de aço, na espessura de 0,8 milímetros, reforçada por preenchimento em poliuretano com densidade de 40 kg/m³. No interior, foi aplicado um spray de celulose na cor natural.
O mobiliário e as edificações adotam um cromatismo simpático aos alunos. Todo o conjunto incorpora recursos sustentáveis como reúso de água, paineis solares, iluminação com LEDs, iluminação natural e brises coloridos que permitem ventilação natural. A sede recém-inaugurada deve atrair a comunidade judaica da cidade em torno desse novo polo cultural e de ensino. E uma das principais fontes de interesse público do Renascença é o teatro com caixa cênica alta e capacidade para 400 pessoas. O teatro, cujo projeto de arquitetura é da AIC Arquitetura, recebeu atenção especial nos acabamentos de piso, paredes e teto, todos definidos em função do desempenho acústico, sem comprometer as características estéticas exigidas pelo projeto. Alcoragi advertiu que os acabamentos foram divididos em materiais com absorção e reflexão sonoras adequadas capazes de direcionar o som ao fundo da plateia. “A forma e a localização foram decisivas para alcançar o resultado de perfeita acuidade sonora. O projeto de acústica teve a liberdade de trabalhar com volumes e formas do forro o que propiciou alcançar o RT60, ótimo para o uso e volume do espaço”, diz Alcoragi.
A solução acústica para o sistema de cobertura (sem laje) do teatro abrange, tal como no ginásio, uma telha termoacústica tipo sanduíche composta por telhas trapezoidais de aço com preenchimento em poliuretano com densidade de 40 kg/m³. “O projeto de acústica introduziu um complemento à cobertura, projetando um entreforro composto por um sistema que poderíamos chamar de ‘drywall na horizontal’, com chapas de gesso acartonado estruturadas com montantes metálicos e cavidade interna preenchida com lã mineral”, descreve Alcoragi. As paredes de isolamento do teatro são em alvenaria de bloco de concreto na espessura de 19 centímetros com os vazios dos blocos preenchidos com massa de assentamento. “Essa solução foi eficiente e de baixo custo, pois a matéria-prima e a mão de obra são as mesmas de uma parede de alvenaria convencional”, diz.
A volumetria e as formas curvas do forro definem a reflexão e a absorção trabalhando a reverberação ótima – de 1,1 segundo. Para trabalhar a reflexão, painéis de madeira lisos que não são vazados; perfurados para a absorção, com painéis de lã de vidro, vazados; o mesmo conceito foi aplicado no forro, com uma diferença: em vez de madeira, gesso. A espessura normal dos painéis de gesso ficaria em 12,5 milímetros mas, nesse projeto, para vibrar menos, “especificamos duas placas coladas para ficar com 25 milímetros”. Para a absorção, gesso perfurado. No interior do teatro, painéis inclinados iluminam a sala e têm a função de quebrar o paralelismo e de promover a difusão sonora.