Projeto acústico do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein

Uma das instituições mais avançadas da América Latina para estudos médicos, que contará com inovações nos métodos e tecnologias do aprendizado, além de laboratórios de pesquisa flexíveis capazes de se adaptar à evolução das técnicas hospitalares acaba de ser inaugurado. Com projeto de arquitetura concebido em 2016 pela Safdie Architects e Perkins+Will, o desafio do escritório Harmonia foi “criar um espaço de pesquisa e ensino com acústica excelente, de nível internacional”.

Uma das instituições mais avançadas da América Latina para estudos médicos, que contará com inovações nos métodos e tecnologias do aprendizado, além de laboratórios de pesquisa flexíveis capazes de se adaptar à evolução das técnicas hospitalares acaba de ser inaugurado. 

O Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, que faz parte do complexo hospitalar Albert Einstein, Campus Cecilia e Abram Szajman, já figura na paisagem do bairro paulistano do Morumbi como um “oásis do conhecimento”, segundo o presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Sidney Klajner (O Estado de S. Paulo). Com projeto de arquitetura concebido em 2016 pela Safdie Architects e Perkins+Will, contou com a participação do escritório Harmonia para um desafio “criar um espaço de pesquisa e ensino com acústica excelente, de nível internacional”.

“O processo durante o projeto e construção foi muito interativo, com soluções customizadas sendo demandadas constantemente. Todas as soluções eram criadas já tendo em mente questões arquitetônicas e construtivas, como estética, função, facilidade de manutenção, rapidez de execução e custo viável”, observa Marcos Holtz, sócio-diretor da Harmonia.

Localizado em um terreno de 44 mil metros quadrados, o Centro de Ensino se divide em duas alas – uma dedicada à pesquisa, outra ao ensino – conectadas por um átrio ajardinado no centro do edifício. O programa, distribuído em salas de aula, laboratórios, escritórios, um auditório e uma cafeteria, é organizado ao longo de uma série de desníveis em torno desse átrio. Tudo isso dentro de um edifício icônico e inovador, convivendo com uma enorme infraestrutura de equipamentos.

Esquema do edifício com as principais preocupações acústicas do projeto.

Ruído externo

Localizado em uma região bastante movimentada e com elevado nível sonoro advindo do tráfego urbano se fez necessária uma campanha de medições para que o projeto das fachadas fosse definido de maneira a garantir os níveis sonoros internos ótimos para os usos previstos. No caso, as aulas e pesquisa que exigem concentração, pois um ambiente silencioso favorece a concentração e diminui o cansaço. Daí o isolamento acústico a ruídos externos ser prioritário. Nesse caso, foram utilizados sistemas em pele de vidro, com vidros laminados esp. 12mm, com uma redução sonora Rw = 37dB.

Simulação dos níveis sonoros do tráfego urbano, incidentes nas fachadas

O átrio

O átrio tinha um caráter muito especial, sendo uma das maiores preocupações acústicas do arquiteto Moshe Safdie, da Safdie Architects. Segundo Holtz, “ele imaginava um local de permanência, cheio de vida e plantas, e que permitisse apresentações musicais, um grande desafio devido ao volume aproximado de 78.000 metros cúbicos”.

Para o estudo foi criado um modelo 3d do espaço, com a aplicação dos materiais de revestimento variando. No total, dez cenários foram avaliados devido à complexidade das formas e possibilidades de revestimentos.

Imagem da simulação 3d para cálculo do TR do átrio

A solução foi sendo construída aos poucos. “Inicialmente houve a discussão sobre a viabilidade da grande cobertura curva do edifício ser em ETFE. Esta solução tinha vantagens, como a leveza e alguma capacidade de absorver sons, porém tinha uma desvantagem em relação ao isolamento acústico e ao ruído de chuva. E, por diversas razões, acabou descartada. Ficou definida então a solução de cobertura de vidro”, observa Holtz.

Com o vidro ficou relativamente fácil resolver o isolamento a ruído de chuva e isolamento a ruídos externos, porém trouxe um grande desafio para o condicionamento acústico do espaço. O grande volume, com muito vidro e superfícies rígidas, levou a Harmonia a concluir que era preciso o uso de um material que tivesse transparência e absorvesse sons simultaneamente. Foi então definida uma película, bastante transparente, com absorção sonora superior à do vidro. O vidro foi aplicado na parte superior da estrutura metálica em “colmeia”, sendo a película aplicada na face inferior.

Fotos do átrio, ainda em execução

Nos tetos de praticamente todas as circulações que abrem para o átrio foi utilizada uma membrana micro perfurada acústica de alto desempenho, opaca e na cor branca. Esta solução permitiu o controle da reverberação do átrio e resultou em um forro acústico extremamente liso e sem irregularidades, acompanhando as curvas dos balcões.

Após a finalização do projeto, medições de TR (Tempo de Reverberação) foram executadas. O resultado atendeu plenamente o requisito que havia sido definido em projeto, criando um ambiente de acústica agradável que, em conjunto com o visual iluminado e repleto de plantas, criou uma atmosfera revigorante e tranquila.

Detalhe da cobertura de vidro com a membrana aplicada
O tempo de reverberação calculado do átrio

No gráfico, a seguir, são mostrados os tempos de reverberação calculados com e sem a utilização de forros acústicos (linhas amarela e azul).

Salas de aula

As salas de aula são o coração do centro de ensino, onde acontece a maior parte da interação e trabalho de alunos e professores. Nelas, foram utilizados forros acústicos de altíssimo desempenho (αw≥0.90), portas acústicas, sistema de ar-condicionado com baixo nível de ruído cuidadosamente projetado e divisórias móveis acústicas.

O tempo de reverberação, das salas em médias frequências, foi projetado para obtenção de TR 500,1000Hz ≤0.6s, de acordo com normas internacionais para salas de aula.

As divisórias móveis foram dimensionadas com um isolamento acústico muito alto – Rw=51dB – e permite aulas simultâneas sem distrações. O modelo foi customizado para permitir a instalação de vidros na face para funcionarem como lousas.

Salas de aula durante as medições sonoras de verificação

Refeitório e biblioteca

O refeitório e a biblioteca receberam sistemas silenciosos de ar-condicionado, divisórias, portas acústicas e forros em ripas de madeira com lã mineral sobreposta para controle da reverberação, de maneira a obter TR 500,1000Hz ≤ 1.0s.

Imagem da biblioteca (em cima) e da praça de alimentação (abaixo) durante as medições sonoras

Auditório

O auditório encontra-se no eixo do grande átrio, o que demandou cuidados extras com o isolamento acústico para esta área. Sua forma peculiarmente circular exigiu que o tratamento acústico ficasse oculto por trás de um lambri de madeira em todo o perímetro.

A parte frontal do auditório, toda em vidro e em formato convexo, ajuda no espalhamento sonoro e permite que as apresentações tenham como fundo o grande átrio.

Uma outra particularidade é que o auditório pode ser dividido ao meio, permitindo duas apresentações simultâneas, utilizando divisórias semelhantes às divisórias móveis utilizadas para as salas de aula, com Rw≥51dB.

Planta e imagem do auditório em construção.

Um projeto desta envergadura é resultado do trabalho conjunto de muitas equipes, tanto de projeto quanto de construção. A coordenação conjunta dos escritórios Safdie Architects e P+W foi fundamental para o sucesso da execução deste edifício, além do trabalho competente dos inúmeros projetistas envolvidos. A cidade ganha ao mesmo tempo um edifício icônico e uma escola com a já reconhecida excelência associada ao nome do Hospital Israelita Albert Einstein”, conclui Holtz.