Debate: conforto termoacústico em residências

Título | Debate: conforto termoacústico em residências
Fonte | Revista AU Edição 263, da Editora Pini de fevereiro/16
Autora | Juliana Nakamura
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Um projeto de arquitetura pode se valer de uma série de recursos para prover melhor conforto aos moradores de uma residência. Há desde aquelas mais elementares, como a implantação que considere a incidência do sol e a ventilação cruzada, até as que envolvem a instalação de algum produto ou sistema, como forros minerais, drywall com isolantes, portas e janelas acústicas, entre outros.

Um projeto de arquitetura pode se valer de uma série de recursos para prover melhor conforto aos moradores de uma residência. Há desde aquelas mais elementares, como a implantação que considere a incidência do sol e a ventilação cruzada, até as que envolvem a instalação de algum produto ou sistema, como forros minerais, drywall com isolantes, portas e janelas acústicas, entre outros.

O que define o tipo de ação a adotar são, basicamente, a necessidade do usuário, as características do imóvel e o orçamento disponível. “O primeiro cuidado é buscar o equilíbrio. Isso porque a solução que apresenta bom resultado térmico dificilmente atenderá às necessidades acústicas, e vice-versa”, alerta o físico Marcelo de Mello Aquilino, pesquisador do Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade de Edifícios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). Ele lembra que a especificação de uma solução térmica ou acústica deve levar em conta uma série de outras condicionantes, como o comportamento ao fogo.

INÉRCIA TÉRMICA

Para garantir o nível de conforto desejado, o projeto deve abordar a questão térmica e acústica da edificação de modo global. Ou seja, nenhuma solução pode ser pensada ou introduzida isoladamente. “Não raramente nos deparamos com projetos que desvinculam a térmica da acústica. O resultado são remendos, como a introdução de vedações extras para brecar ruídos ou a instalação de ar-condicionado para amenizar falhas de ventilação”, comenta Edison Claro de Moraes, presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (Proacústica) e diretor da Associação Nacional dos Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal).

Quando o objetivo principal é garantir conforto ao usuário sem comprometer a eficiência energética do edifício, as soluções mais simples costumam apresentar os melhores resultados. Nessa categoria enquadram-se o projeto de plantas baixas com profundidade adequada para um bom aproveitamento da luz natural, a adoção de proteções solares, como a instalação de um sombreamento externo, assim como proporções mais equilibradas de áreas envidraçadas para aumentar a resistência térmica da fachada. Outra solução de impacto é a opção por vidros e películas de controle solar em detrimento dos vidros comuns.

As decisões de projeto podem ser das mais variadas quando se tem a possibilidade de levantar a edificação a partir do zero. “Nesses casos, uma saída é colocar o pé-direito um pouco maior para favorecer a ventilação”, cita o arquiteto Eduardo Bessa, sócio do escritório Cactus Arquitetura. Também é possível tirar partido da inércia dos materiais, com a adoção de paredes de maior espessura. Em climas como o da capital paulista, quanto maior a inércia, melhor será o desempenho térmico da edificação. “A inércia funciona bem em locais com grande amplitude de temperatura. Quando a temperatura é mais constante, como ocorre no Pará, já não funciona”, comenta Marcelo, lembrando que a inércia térmica remete às construções do passado, com paredes espessas, janelas amplas e grandes beirais.

Nos casos em que o escopo do projeto abrange apenas a reconfiguração de uma construção existente, as alternativas de garantir conforto são mais restritas, mas não necessariamente escassas. A mais recorrente é adotar divisórias de drywall com lã mineral no miolo. Paredes compostas por chapas duplas de 12,5 mm oferecem isolamento equivalente ao de uma parede de blocos maciços com 90 mm de espessura, ou seja, cerca de 35 dB a 37 dB. Também é possível melhorar o desempenho das paredes afastando as placas com montantes maiores ou dobrando o número de chapas de gesso em cada lado da vedação.

RUÍDOS EM FOCO

Em projetos residenciais, especialmente em construções verticais, o ruído é uma das principais causas de desconforto e algo que põe em risco a saúde humana. Segundo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em 2011, o organismo humano responde aos ruídos mesmo quando está dormindo, aumentando a produção de alguns hormônios, elevando o ritmo cardíaco, contraindo vasos sanguíneos, entre outras reações.

Não à toa, a Norma de Desempenho para Edificações Habitacionais (NBR 15.575: 2013) preconiza que os pisos que separam os apartamentos em diferentes andares devem garantir um desempenho adequado não só contra o os ruídos aéreos (conversações, TV, música, etc.), mas também contra os ruídos de impacto (passos, queda de objetos, arrastar de móveis etc.). Garantir o desempenho exigido pela norma influencia diretamente a especificação do revestimento do piso, do contrapiso e das lajes. Em alguns casos, quando se usa laje zero, por exemplo, a instalação de mantas acústicas pode ser necessária para garantir o índice de transmissão de até 80 dB. O valor exigido pela norma é considerado insuficiente para prover o desejável conforto aos usuários. “Por isso, recomendamos que o projeto adote o desempenho intermediário (menor ou igual a 65 dB) ou superior (menor ou igual a 55 dB), seja pela aplicação de contrapisos flutuantes ou por sistemas de lajes mais robustas”, comenta Edison, da Proacústica.

A especificação dos materiais para incrementar o conforto ambiental de uma casa requer, além de rigor, conhecimento sobre os seus comportamentos. Se o projeto demandar certa absorção acústica e menor tempo de reverberação do ruído, a especificação de materiais isolantes, como as lãs minerais, não será eficaz. Além disso, deve-se ter em mente que isolar demais um ambiente também pode, em vez de ajudar, incomodar o usuário. “Nos dormitórios, a proteção absoluta a ruídos externos não deve ser almejada porque gera ainda mais desconforto com os ruídos internos, como os de um relógio ou os de um refrigerador”, comenta Eduardo Bessa.

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