Morar na Paulista é como viver com aspirador de pó ligado o dia todo
Título | Morar na Paulista é como viver com aspirador de pó ligado o dia todo
Fonte | Jornal Folha de S. Paulo – 25/04/18
Autoria | Fernanda Pereira Neves
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Estudo mediu ruídos no quadrilátero mais rico e movimentado da capital paulista
Morar na famosa e movimentada avenida Paulista, no centro de São Paulo, significa conviver com um ruído equivalente ao de um aspirador de pó entrando pela janela. É isso que aponta um mapa desenvolvido pela associação ProAcústica para medir o barulho provocado pelo tráfego urbano.
O projeto analisou o quadrilátero das avenidas Paulista, Brasil, 23 de Maio e Nove de Julho, gerando um mapa, que está sendo divulgado nesta quarta-feira (25), como parte das ações pelo Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído. A consulta pode ser feita por aqui.
Na Paulista, por exemplo, foi constatado, na altura da Brigadeiro Luiz Antônio e da praça Oswaldo Cruz, ruído em torno de 70 dB (decibéis) durante o dia, o que equivale ao aspirador de pó. À noite, o índice cai e chega a média de 60 dB, o que corresponde a uma máquina de lavar louças ou uma máquina de costura.
Na avenida 23 de Maio, próximo ao Centro Cultural São Paulo, os dados mostram barulho ainda maior provocado pelo tráfego de veículos. De dia, os índices chegam aos 75 dB (barulho de um despertador) e, à noite, aos 60 dB, assim como na Paulista. A diferença é mostrada no mapa pelas cores de cada trecho.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o nível de ruído recomendável para a audição é de até 50 dB.
Segundo Marcos Holtz, vice-presidente de atividades técnicas da ProAcústica, o mapeamento é importante para que a administração municipal possa desenvolver ações mitigadoras, como a troca de pavimento, alteração de fluxo de uma via, mudança nos limites de velocidade, proibição de veículos pesados e incentivo aos corredores de bicicletas.?
“Além do combate ao ruído excessivo, o mapeamento serve também para identificar as áreas silenciosas e, assim, poder mantê-las longe das áreas mais ruidosas. Evitar, por exemplo, a construção de indústrias. É uma ferramenta muito poderosa de gerenciamento de poluição sonora”, afirma Holtz.
A poluição sonora é apontada hoje como o segundo maior agente poluidor ambiental, depois da poluição do ar. Ao barulho constante são atribuídos problemas de saúde, como perturbação do sono, estresse, pressão alta e até colesterol. Já entre os tipos de poluição sonora, o tráfego urbano seria responsável por quase 90%.
Holtz explica que o mapa apresentado nesta quarta analisa apenas os ruídos rodoviários, mas a ideia é que ele seja estendido aos ruídos ferroviários, aeroviários e industriais. Análise de barulhos de baladas e bares, no entanto, ele afirma que são mais específicos e geralmente feitos em microáreas, mas também importantes para a administração municipal.
O mapa piloto será doado à prefeitura, que deve concluir até 2023 um mapa de ruído que englobe toda a cidade, segundo lei promulgada em 2016. A responsabilidade desse mapeamento está sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, com o apoio da ProAcústica e de outras secretarias.
Além do mapa, divulgado nesta quarta, a ProAcústica está fazendo outras ações para lembrar o Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído.
Também na avenida Paulista, foram usados, na noite de terça (24), medidores de ruídos em frente à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), cujos resultados foram projetados em tempo real na fachada do prédio, com indicações verde, amarela e vermelha para sinalizar acústica boa, regular ou ruim, respectivamente.
Um personagem, chamado Deciberto –em referência à unidade de medida sonora– também estava na projeção, que voltará à fachada do prédio da Fiesp entre a noite desta quarta e a madrugada de quinta. A associação também promoverá um minuto de silêncio no local, das 14h25 às 14h26, horário seguido também por outros países.