Poluição Sonora: Nem as estátuas aguentam mais tanto barulho
Título | Poluição Sonora: Nem as estátuas aguentam mais tanto barulho
Fonte | Sputnik Brasil de 27/04/17
Autoria | Redação
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Para marcar o Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído, celebrado dia 26 de abril, o Monumento às Bandeiras, um dos símbolos da cidade de São Paulo, feito pelo artista Victor Brecheret, recebeu fones de ouvidos para chamar a atenção da população sobre os perigos da poluição sonora.
Como parte da campanha internacional ”Conforto acústico e educação, um bem para você e sua audição”, a obra de Brecheret também ganhou uma iluminação especial amarela, que foi o tema da ação deste ano, bem como o prédio da Assembleia Legislativa. Um minuto de silêncio também foi feito no parque Ibirapuera e de um debate com autoridades públicas, especialistas, associações de bairro, estudantes e a população em geral, sobre as implicações do ruído e vibração na saúde das pessoas e soluções para a conquista de uma cidade mais silenciosa.
A iniciativa foi feita pela ProAcústica (Associação Brasileira para Qualidade Acústica), a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e da Umapaz (Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz)
Na semana passada, o prefeito de São Paulo, João Doria já tinha publicado dois decretos para intensificar as ações do PSIU, o Programa de Silêncio Urbano, que fiscaliza o barulho em bares e restaurantes após a 1 da manhã. Quem estiver cometendo barulho excessivo após esse horário pode receber multas de até R$ 30 mil.
Em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, o Coordenador do Comitê Acústica Ambiental da ProAcústica, uma das entidades organizadoras da ação no Monumento às Bandeiras, o arquiteto Marcos Holtz falou sobre a importância que a ação teve de se usar um dos marcos da cidade de São Paulo para fazer um alerta sobre o problema da poluição sonora.
“Nós nos apropriamos desse monumento como um símbolo da cidade, e nada mais simbólico do que trazer ali a problemática da poluição sonora nesse símbolo, de que a cidade não suporta mais a poluição sonora que está sendo exposta. Nós precisamos tomar ações que diminuam essa poluição sonora, que gerenciem esses ruídos.”
A ProAcústica tem um trabalho de mostrar os benefícios das soluções acústicas na construção civil como fator primordial para o conforto e a saúde dos usuários, e segundo Marcos Holtz, além do alerta, o ato no Monumento às Bandeiras, trouxe a possibilidade de também se discutir o assunto no âmbito político. “Esse evento além de ter o papel de conscientizar e trazer para a pauta um assunto que é uma poluição invisível, uma poluição que as pessoas às vezes nem se dão conta, nós conseguimos ainda criar um fato político, que permita que se faça algo a respeito, que se crie uma política de gerenciamento de ruídos na cidade.”
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 10% da população mundial está exposta a níveis de ruído que podem causar diversos problemas de saúde, principalmente doenças cardiovasculares.
“Segundo a Organização Mundial da Saúde a poluição sonora ultrapassou em 2011 a poluição da água, como a poluição mais nociva a saúde humana. Hoje, a única poluição que seria mais nociva que a poluição sonora seria a poluição do ar. Ela já é um problema de saúde pública comprovado. Na Europa e em países que já tem essa tradição de gerenciar os ruídos, ela já tem diversos investimentos e estudos e trabalhos a respeito de como criar um urbanismo, como modificar a cidade para melhorar a condição de vida da população em relação a poluição sonora.”
No ano passado na gestão do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi sancionada a Lei de criação do Mapa de Ruído Urbano, que deve ser finalizado nos próximos quatro anos. O arquiteto ressalta que a aprovação da lei que estabelece o Mapa de Ruído da cidade de São Paulo, já foi uma grande vitória da população contra a poluição sonora e ter feito o ato no Monumento às Bandeiras vem em um momento oportuno, pois agora será regulamentada essa lei. Através do Mapa de Ruído Urbano, será possível detectar os problemas da cidade, quanto a poluição sonora e aplicar políticas públicas para amenizar o problema. Conforme estudo realizado pela Agência Europeia do Meio Ambiente, na Europa, o ruído ambiental foi o responsável por pelo menos 10 mil mortes prematuras, além de 900 mil casos de hipertensão e 43 mil internações hospitalares em 2014.
“O Mapa é para dizer em quais áreas existem os maiores problemas de poluição sonora, as pessoas mais expostas, porque muita gente associa que a poluição sonora é somente relacionada a audição, só que na verdade o que faz as pessoas perderem a saúde e até mesmo morrerem em um caso de exposição por muito tempo é o coração, o sistema cardiovascular. Então, ela pode provocar infartos e derrames. Ela é um problema de saúde pública e realmente é muito importante e deve ser tratado com o devido cuidado que merece,” analisou Marcos Holtz.
Além das políticas públicas, o arquiteto destaca ainda que a população também tem um papel fundamental para ajudar a reduzir o excesso de ruído ambiental. “A questão da educação é muito importante, porque é um assunto muito pouco discutido. No caso de vizinhança isso é muito nítido. A pessoa acha que dentro de sua casa pode fazer o que quiser, só que tem uma educação que deve ser mantida para não perturbar os vizinhos. A gestão do ruído da cidade tem que levar em conta tanto a questão macro, que é a questão do planejamento urbano, a questão em meia escala, e a questão da pequena que é justamente a educação da população para um conviver pacificamente com o vizinho que está ali do lado.”