Acústica na regulamentação ambiental de parques eólicos é tema de oficina organizada pelo Ministério de Minas e Energias

Apesar de sustentável, a geração de energia eólica carrega em si impactos ambientais importantes para os ecossistemas onde essa tecnologia é inserida. Por ser um fator preocupante o Ministério de Minas e Energias (MME) promoveu, no fim de agosto, a oficina “Papéis das Instituições Públicas e conformidade de empreendimentos de energia eólica no Nordeste”. A ProAcústica foi uma das entidades convidadas para falar sobre o papel da acústica no processo de regulamentação ambiental de parques eólicos, com a participação do coordenador do Comitê Acústica Ambiental – Eng. Rafael Galvão Leal Andrade.

Além do MME, a oficina contou com a organização da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), uma empresa pública federal que presta serviços ao Ministério na área de estudos e pesquisas para o setor energético, nas áreas de energia elétrica, petróleo e gás natural e biocombustíveis. Foram três oficinas com os temas: “Sisnama, Licenciamento Ambiental Federal, Regulação e Normativas Técnicas de Referência”; “Experiência dos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente, Desafios e Oportunidades” e “Financiamento Público”. A ProAcústica participou da primeira oficina que contou com mais de 90 representantes das entidades convidadas, Ministérios, Secretarias, Institutos, Agências e Bancos.

Os malefícios para a saúde das populações que vivem no entorno de parques eólicos são provenientes do ruído e vibração dos equipamentos que fazem parte das turbinas, pontua Andrade.  “São incômodos que podem gerar distúrbios do sono, elevação nos níveis de estresse e ansiedade, podendo, em alguns casos, levar à depressão. Causam efeitos fisiológicos como náuseas e tonturas. E também podem impactar a fauna – tanto onshore quanto offshore.

“As formas de geração de ruído pelas turbinas ocorrem por causas mecânicas, por meio dos componentes móveis dos aerogeradores presentes nas naceles (gerador, caixa de transmissão); ou por fatores aerodinâmicos, causados pela interação entre o fluxo de ar e as estruturas das pás. Nesse caso, podem ser ruídos rotacional das pás, de turbulência de entrada e autogerado pelo aerofólio”, explica Andrade.

Mas o problema dos parques eólicos parece estar mais no que o homem e a natureza sentem do que necessariamente ouvem. Isso porque, segundo o especialista, o incômodo gerado pelas turbinas não decorre, necessariamente, de fenômenos auditivos.

Ao contrário do ruído gerado por estradas de rodagem, aviões ou ferrovias, o de turbinas eólicas pode ser percebido a distâncias de até 2000 m para rotores à montante (upwind) e até 3000 m para rotores à jusante (downwind). Em longas distâncias, há predominância de médias frequências para o espectro audível, mas, no entanto, há uma concentração significativa de energia em bandas de frequências abaixo de 100 Hz. Essa concentração de energia é classificada como infrassom.

De acordo com Andrade, “o problema é que essa energia gera graves efeitos para a saúde. Entre eles o da Hidropisia Endolinfática, que é induzida por tons de baixa frequência e pode gerar tonturas, confusão, náuseas, zumbido e mudanças nos potenciais auditivos. Além disso, os infrassons geram excitação das vias nervosas aferentes das células ciliadas externas, que têm papel na atenção seletiva e na vigilância, levando a perturbações no sono”, explica.

Entre outros aspectos abordados pelo especialista da ProAcústica destacaram-se: metodologias de medições e modelagens acústicas para empreendimentos de energia eólica; regulações de ruído de parques eólicos; mitigação do ruído de aerogeradores, como a redução do ruído de turbulência de entrada e do ruído da borda de fuga e de ponta; e os aspectos do mercado brasileiro de acústica, entre eles o que se refere às medições e monitoramento de ruído e a cálculos preditivos.