Generalização dos referenciais técnicos de acústica do Leed podem impactar na qualidade da construção
A revisão dos referenciais de acústica da certificação estadunidense Leed, de sustentabilidade na construção civil, tem ligado o sinal de alerta de especialistas. A poluição sonora e o conforto acústico estão hoje entre os principais temas de preocupação da agenda da construção sustentável no planeta, e a busca pela excelência em conforto, saúde e meio ambiente para moradias e ambientes de trabalho não pode ser negligenciada.
Acontece que a nova versão 5 do Leed, em desenvolvimento – que terminou a primeira etapa de comentários públicos da revisão no dia 20 de maio, − aponta para uma redução e generalização dos referenciais técnicos de acústica, se comparados às exigências sobre o tema nas versões anteriores da certificação. Esse aspecto tem sido alertado por especialistas pela possibilidade de impactar negativamente a qualidade de desempenho acústico do setor da construção no Brasil e no exterior.
As mudanças, se aprovadas, valerão tanto para o caso do Leed ID+C (Comercial Interiors), quanto para o Leed BD+C (New Construction). “A certificação, me parece, nessa revisão, que deu uma virada de foco e está privilegiando muito mais a parte de emissões de carbono do que itens de desempenho em conforto interno das edificações. Outras certificações estão dando muito mais importância ao desempenho acústico, por exemplo”, ressalta Juan Frias, Sócio Diretor da Bracústica Consultoria, empresa associada da ProAcústica.
“A acústica nas versões anteriores dos referenciais técnicos Leed estava muito bem definida e tabelada, com os requisitos de isolamento, reverberação, de ruído de ar-condicionado, entre outros. Hoje já não estão mais presentes. Simplesmente, de forma generalizada, a certificação recomenda a realização de estudos de acústica, mas não aponta mais os limites. Assim o conforto acústico passa a ser um critério subjetivo e não mensurável objetivamente”, explica Frias.
O fato é que nos EUA o setor da construção civil possui normas próprias de acústica e talvez, por esse motivo, os gestores da certificação tenham optado por suprimir as exigências da norma. “Mas o problema é que em outras regiões, como no caso do Brasil, que não tem essa cultura, pode acontecer de que empreendedores não tenham que atender mais a nenhum requisito de acústica para obter essa certificação”, ressalta Frias.
A ProAcústica, que contribuiu com comentários nesta primeira etapa de revisão, entende que as alterações na abordagem do tema acústica nos referenciais técnicos representam um “downgrade” da certificação.
De acordo com o Green Building Council (GBC Brasil), ONG gestora da certificação no país, o Leed V5 ainda está em desenvolvimento, mas a acústica continuará a ser um componente significativo da categoria de qualidade ambiental interna, para garantir a administração sustentável e o aproveitamento dos edifícios certificados.
Segundo a nota enviada, a intenção do USGBC (EUA) ao incluir a acústica em um crédito proposto intitulado Experiência do Ocupante é encorajar mais projetos para estabelecer expectativas acústicas e para que os projetistas entendam melhor os aspectos multifacetados do ambiente interno que se relacionam com as experiências dos indivíduos ao usar o edifício.
Ainda no comunicado da ONG, além do crédito de experiência do ocupante, eles planejam incluir créditos inteiramente dedicados à acústica semelhantes aos do Leed V4.1 para tipologias de projetos como escolas, unidades de saúde e escritórios. Esses créditos específicos de tipologia serão incluídos na biblioteca de créditos do USGBC.
Detalhes das mudanças
Na versão 4.1. (atual), a “Acoustic Performance” era um item da categoria “Indoor Environmental Quality”, enquanto na versão 5 “Sound Environment” passa a ser um subitem do item “Occupant Experience”, que está dentro da categoria “Indoor Environmental Quality”.
Em alguns tipos de empreendimentos como escritórios, o conforto acústico que valia 2 créditos na versão 4.1, passa a valer 1 crédito na versão 5, dos 7 créditos que podem ser totalizados no item “Occupant Experience”. Assim, a acústica perde relevância, contribuindo com uma pequena pontuação e mesmo assim intercambiável com outros parâmetros como conforto térmico.
Na versão 4.1. existiam requisitos de isolamento acústico, tempo de reverberação e níveis de ruído para cada tipo de ambiente. Já, na versão 5, o referencial técnico orienta o empreendedor a somente desenvolver um plano acústico dos diferentes ambientes e definir as soluções acústicas com foco em gerenciar o conforto acústico, ruído de fundo, privacidade, tempo de reverberação e ruído de impacto, mas sem parâmetros objetivos.