Uma longa trajetória que se confunde com a história da engenharia e arquitetura acústica merece a justa homenagem
Ao completar 70 anos como profissional em atividade na acústica, Schaia Akkerman quer deixar um legado que possa servir de inspiração para os jovens que estão começando na carreira e que resgate o que ele chama de “anos dourados” da profissão durante os séculos 20 e 21.
Não é para qualquer um chegar a uma idade avançada, lúcido, independente e cheio de histórias para contar, a ponto de estar preparando um artigo com as memórias de décadas de trabalho como empresário e profissional da acústica. Aos 95 anos, o engenheiro mecânico, eletricista e civil, Schaia Akkerman, quer deixar um legado que resgate o que ele chama de “anos dourados” da profissão durante os séculos 20 e 21 e, mais ainda, servir de inspiração para os jovens que estão começando na carreira. Mas não é só.
Além das próprias reminiscências, Akkerman quer lembrar da convivência com outros colegas, como o engenheiro Fernando Henrique Aidar, que se dedicou à engenharia do controle de ruídos, nas áreas industrial, residencial e institucional, e dos que já morreram e fazem parte desta história.
Por enquanto, o artigo intitulado “Acústica, Anos Dourados, séculos 20 e 21”, contém uma memória resumida do começo de tudo, a empreitada de constituir uma empresa modelo, a fundação mais recente da ProAcústica, o exame de soluções e materiais empregados em mais de cinco mil projetos desde os primeiros anos da carreira. “Além da evolução tecnológica da indústria de materiais, − hoje são 85 empresas associadas à ProAcústica − nós vimos o processo de mudanças na eletrônica de medição, nos sonômetros, que avançaram muito na precisão nesses últimos anos”, sublinha Akkerman.
O começo de tudo se confunde com a introdução dos primeiros produtos industriais acústicos no mercado da arquitetura e construção civil brasileira. Entre 1952-1953, a empresa Eucatex estava começando a produzir placas de fibra de eucalipto, na fábrica em Salto, SP e iria concorrer com as chapas da americana Celotex. O produto então novo no mercado eliminava a necessidade de emendas ou juntas, era composto por químicos antichama e aditivos para diminuir a absorção de umidade, a ação de insetos e de químicos indesejados. O painel de fibras prensadas, uma chapa dura ou uma chapa mole, podia ser usado em diversas aplicações, dependendo da pressão aplicada durante o processo de fabricação.
“Nessa época, eu trabalhava na Eucatex que entregava uma chapa dura, utilizada na indústria de mobiliário e na produção de portas e divisórias, enquanto a chapa mole destinava-se ao isolamento térmico e acústico. E isso deu início às primeiras especificações de materiais acústicos, no meio técnico local.” Dessa época Schaia Akkerman lembra de colegas como o engenheiro Alexandre Spagat e o arquiteto Odilon Homem de Melo.
Até para consolidar a concorrência vinda de fora, a Eucatex e a Serraria Americana da família Maluf, resolveram investir na criação do IBA-Instituto Brasileiro de Acústica. “Na época, o IBA trouxe técnicos e profissionais como o arquiteto Robert Newman, da empresa de soluções Bolt, Beranek and Newman, e o engenheiro eletrotécnico e acústico Lothar Cremer, de Berlim, para palestras no Brasil”. Antes da criação da ProAcústica − que, com grande apreço e admiração rende a justa homenagem e o reconhecimento ao nonagenário associado − durante esses anos todos, várias entidades mundiais, instituições de ensino e organizações como o IPT, a ABNT, Cetesb, Conama e o Inmetro fizeram parte dessa trama.
A empresa de Akkerman, antiga Acústica Engenharia surgiu em 1977, como uma sociedade com arquitetos. A experiência da empresa serviu para articular a elaboração de inúmeras normas junto à ABNT, à prefeitura de São Paulo, à Cetesb e ao Conselho Nacional do Meio Ambiente da secretaria do Meio Ambiente. Trabalhou em projetos de acústica e controle de vibrações para fábricas, como a da Ford Motors, em São Bernardo do Campo. “Foi um dos projetos mais desafiadores porque a gente tinha que resolver uma reclamação da comunidade incomodada com uma prensa para imprimir chapas na fábrica de automóveis.” Nos anos 80, Akkerman teve participação decisiva na criação da Sobrac – Sociedade Brasileira de Acústica.
Na época em que a construção do mercado habitacional viveu um período de crescimento significativo, com a criação do ministério das Cidades, em 2003, os investimentos por programas de estímulos específicos para a habitação de interesse social, Akkerman, em entrevista à revista Téchne, alertava para os riscos do alto adensamento urbano e maior movimentação de voos. As pessoas iriam reclamar mais e a indústria de materiais e as construtoras teriam que dar uma resposta. Os anos passaram, veio a pandemia e aos ruídos urbanos cresceram junto com os desafios da arquitetura acústica. Quando da fundação da ProAcústica, em 2010, uma parcela do mercado de produtos e serviços acústicos sentiu que a Sobrac daquela época havia incorporado um viés voltado para a academia, sem muita projeção no mundo corporativo do mercado de negócios. Akkerman, que tinha raízes no âmbito dos produtos desde o começo da carreira, apoiou a iniciativa.
“Nosso trabalho com acústica de interiores e a proteção do ruído externo prossegue aqui na agora redenominada Akkerman Alcoragi Acústica Ideal. O cenário mudou e hoje continuamos com uma grande procura por soluções para conforto, bem-estar, sigilo, saúde, privacidade e lazer. Fico feliz de ter feito parte dessa longa história que continua”, conclui Akkerman.