Novo escritório da Disney no Brasil recebe em instalações antigas projeto com soluções acústicas em quatro pavimentos
Compatibilizar todos os elementos arquitetônicos em um prédio comercial já existente com as soluções de condicionamento acústico nem sempre é uma tarefa fácil. E foi esse um dos desafios para a implantação do projeto acústico nas novas instalações da The Walt Disney Company Brasil, em São Paulo, realizado pela Giner Designing sound spaces.
A empresa iniciou suas atividades no Brasil há quase 30 anos e é responsável pela marca Disney e seus negócios – como streaming, videogames e produtos de consumo. Os escritórios compostos por 4 pavimentos em um prédio na avenida das Nações Unidas passaram por uma reforma de dois anos para receber, os mais de 900 colaboradores, de “cara nova” após o retorno ao modelo de trabalho presencial e híbrido.
Entre os ambientes, destacam-se os inúmeros espaços de trabalho open plan, salas de reunião de diversos tamanhos, escritórios privativos e phone booths. Os elementos arquitetônicos de todos os ambientes foram pensados a fim de evidenciar a identidade visual da empresa e seus produtos. Nesse sentido, existem diversas salas temáticas como as de reuniões: “Sala Mickey”, “Sala Moana” e “Sala Wakanda”.
Segundo a engenheira acústica Bárbara Fengler, responsável pelo projeto acústico, “a maior preocupação foi a transmissão sonora entre os ambientes internos e o seu condicionamento acústico, para garantir a privacidade das salas de reuniões e escritórios privativos em relação às diversas áreas open plan. E todas as soluções foram personalizadas para manter as ideias criativas da equipe de arquitetura”.
Ao contrário de muitas situações nas quais o projeto arquitetônico tenta “esconder” as soluções acústicas, nesse projeto, os elementos acústicos foram utilizados a favor do projeto de interiores. “Ver a acústica como elemento em destaque do projeto é realmente satisfatório. O sucesso entre o aspecto acústico e visual demonstra a importância de um trabalho integrado e compatibilizado entre
Isolamento acústico
Para garantir a privacidade acústica desejada no escritório da Disney, foram introduzidas novas divisórias em drywall com índice de Redução Sonora, Rw, de no mínimo 50 dB, e mantidas as existentes aperfeiçoadas com contra paredes em drywall .
Também foram especificadas divisórias – para aumentar a integração entre equipes – compostas por vidro duplo com espessuras diferentes entre si e com um espaço de ar de 7,5 cm. Outro cuidado fundamental foi a execução das divisórias de laje a laje, em drywall, bem como divisórias em vidro e retráteis. Como houve a utilização de piso elevado em muitos ambientes corporativos, a execução de septos inferiores e superiores foram imprescindíveis.
“Todas as soluções acústicas apresentadas para as divisórias, biombos e painéis acústicos foram aferidas por meio de tecnologia e conhecimento técnico. Para o isolamento acústico, como a definição das divisórias, foram utilizados os softwares Insul e SONarchitect ISO. Para a parte de condicionamento acústico das salas sensíveis foi utilizado o software EASE AURA”, segundo Fengler.
Nos espaços abertos, para garantir um mínimo de privacidade – em cabines de phone booth e mesas de trabalho individuais -, foram utilizados elementos de separação entre as áreas com revestimento acústico fonoabsorvente para médias e altas frequências composto por lã de vidro (80 kg/m3 e espessura de 25mm) revestido com tecido.
“Apesar de revestimentos auxiliarem especificamente na parte do condicionamento acústico, a utilização de materiais com alto coeficiente de absorção sonora permite que as pessoas nesses espaços consigam ter uma comunicação efetiva com uma voz mais baixa, o que acaba por auxiliar também na questão do isolamento acústico”, afirma Fengler.
Parte do sistema de ar-condicionado do escritório anterior foi mantida, dificultando a adequação e compatibilização com as novas premissas de arquitetura e as necessidades de acústica. A fim de garantir uma maior privacidade acústica nos ambientes fechados, como salas de reunião e escritórios privativos, foi priorizada a instalação de equipamentos novos nesses ambientes. Já todos os dutos que estavam passando por salas distintas no novo layout foram removidos para evitar o efeito de cross talk, que é um problema de interferência de sinal indesejado em um sinal transmitido.
Espaços colaborativos com biombos acústicos revestidos com o material para minimizar a interferência entre as mesas de trabalho.
Condicionamento acústico
O projeto de condicionamento acústico em escritórios é sempre um desafio, visto que os espaços precisam de uma qualidade acústica adequada e necessitam de uma fácil manutenção. No caso desse projeto em específico, entretanto, “o desafio foi ainda maior: compatibilizar a acústica com o projeto arquitetônico”, diz Fengler.
Na sala de reunião “Moana” foram utilizados painéis com revestimento acústico fonoabsorvente – com espessura de 9 mm, para médias e altas frequências, composto por lã de Pet – personalizados na cor e formato definidos para representar as ondas do mar. Esses elementos foram utilizados na parede oposta à divisória em vidro, justamente para evitar um fenômeno conhecido como flutter – que ocorre quando ondas sonoras são refletidas repetidamente entre superfícies paralelas, criando um efeito de eco perceptível.
Nessa sala, ainda, foram utilizados no forro, compatibilizados com as luminárias e carpete no piso, baffles fonoabsorventes para médias e altas frequências composto por espuma acústica semirrígida de estrutura micro celular, com densidade de 11 kg/m³, de classe IIA de reação ao fogo.
Inteligibilidade da fala
Na sala de reunião principal, chamada “Mickey”, utilizada também para vídeos conferências, as cores do personagem símbolo da companhia são utilizadas em cada detalhe. “Nela foram utilizados elementos de difusão acústica sobre a mesa de reuniões e no seu entorno para proporcionar um adequado espalhamento do som ao longo da sala, garantindo a todos os espectadores compreenderem o que está sendo falado pelo locutor independentemente da posição de cada um deles”, comenta Raquel Rossatto, coordenadora técnica do projeto.
Na parede contrária à divisória em vidro foi utilizado elemento de absorção sonora fonoabsorvente para médias e altas frequências composto por lã de vidro (80 kg/m3 e espessura de 25mm) revestido com tecido com alguns elementos verdes. Esses últimos sem função acústica, mas especificados pela arquitetura para garantir uma sensação de ambiente mais natural e humanizado.
“Todas as salas sensíveis para a acústica, como as de reuniões, foram simuladas no software EASE AURA para verificar a distribuição adequada de materiais para reflexão, absorção e difusão acústica. Por meio da simulação, conseguimos verificar a quantidade e o tipo de material necessário para cada sala, conforme a sua volumetria e a sua finalidade de uso”, explica José Carlos Giner, diretor técnico da Giner.
Para as definições das premissas técnicas de condicionamento acústico nas salas sensíveis para acústica utilizou-se, como premissa técnica, os requisitos indicados na norma alemã DIN 18041: 2016 – Acoustic Quality in rooms – Specifications and instructions for the room acoustics design.
Nas áreas open plan foram utilizados baffles com revestimento acústico fonoabsorvente dispostos sobre os postos de trabalho, a fim de aumentar a área de absorção sonora equivalente nesses espaços; uma vez que as divisórias, na maioria dos casos, eram em vidro ou receberiam mobiliário de escritório, não estando livres para a aplicação de um material acústico.
A preocupação com a acústica ultrapassou os limites dos espaços de trabalho e foi um item importante também para as áreas de café e descompressão dos colaboradores. Em um desses locais foram utilizados elementos como “nuvens” em toda a área do forro.
Serviço
Execução da obra e projeto de arquitetura: GW Arquitetura
Tempo de projeto/obra: 2 anos
Local: São Paulo/SP
Ano: 2022
Crédito das fotos: GW Arquitetura
Créditos fotos: André Velozo
Para definição dos critérios técnicos de isolamento e condicionamento acústicos das salas foram utilizadas as seguintes normas técnicas:
- ABNT NBR 10152: 2017 – Níveis de pressão Sonora em ambientes internos a edificações.
- DIN 18041: 2016 – Acoustic Quality in rooms – Specifications and instructions for the room acoustics design;
- ANSI/ASA S12.2: 2019 – Criteria for Evaluating Room Noise.
- BS 8233: 2014 – BSI Standards Publication: Guidance on sound insulation and noise reduction for buildings;
- ISO 12354:2017 – Building acoustics. Estimation of acoustic performance in buildings from the performance of elements;
- ISO 9613-2:1996 – Acoustics – Attenuation