O exemplo de Valência, na Espanha. Vanguarda da acústica ambiental
Vanguarda na medição acústica ambiental, a cidade espanhola de Valência já passou por várias experiências e se prepara para a terceira rodada da revisão do mapa do ruído urbano.
Depois da diretiva do Parlamento Europeu, de 2002, várias cidades como Madri e Valência, na Espanha, seguiram em frente na estratégia de elaboração de mapas do ruído e planos de ações para minimizar a poluição sonora urbana. Valência – a colônia romana fundada em 138 aC, hoje a terceira maior cidade (atrás de Madri e Barcelona) com 1,55 milhão de habitantes – se prepara, neste momento, para produzir a terceira revisão do mapa do ruído prevista para ocorrer em 2017, seguindo os mapas de 2007 e 2012. Junto com Madri, Valência ocupa uma posição superior na lista das cidades pioneiras com experiências de mapeamento sonoro.
Mapa de Ruído de Valência – Comparativo dos Níveis
Sonoros 2005-2012
O case valenciano ficou conhecido pela comunidade acústica brasileira quando, em abril de 2014, a diretora do Serviço de Poluição Sonora da cidade de Valência, Elvira Brull Codoner, fez uma apresentação na primeira Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora, em São Paulo. As primeiras medições ambientais de ruído, segundo Codoner, foram realizadas em 1994. Mas quem conhece a cidade espanhola evita comparações. “Até conhecer São Paulo, eu achava que a Espanha era barulhenta”, revela o espanhol nascido em Madri, Juan Frias, coordenador do Comitê Acústica de Edificações da ProAcústica e sócio diretor da Bracústica Consultoria, em São Paulo.
O engenheiro Juan Frias, descreve Valência como uma cidade de clima agradável, com muita vida na rua, tradição de fogos artificiais, música eletrônica e corridas de motos. Mas que não deixa de ser semelhante a qualquer outra cidade mediterrânea. Para ele, esse passado recente de planejamento robusto coincide com o período de pujança econômica da Espanha. Com isso, muitas cidades se adiantaram à lei e confeccionaram mapas do ruído sem a obrigação legislativa.
Diante das novas condições legais e o avanço das ferramentas de simulação acústica, Valência, assim como várias cidades da Europa partiram para o aperfeiçoamento de metodologias multidisciplinares que agregassem informações de várias secretarias municipais. Cresceram as modelagens computacionais e os registros municipais com informações de tráfego, ferrovias, aeroportos, metrôs, indústrias; e os modelos digitais de urbanismo, arquitetura e mobilidade urbana. “A acumulação de muitos layers com informações como velocidades e fluxos de veículos, diurnos e noturnos, com diversos tipos de pavimentos acabou por estruturar uma “foto instantânea” com um diagnóstico dos pontos quentes de ruído”, explica Juan Frias.
No caso de Valência, os planos de ação mitigadores levaram em conta as regiões com maiores níveis sonoros e com grande número de pessoas residindo. Foram criadas novas ruas de pedestres, dentro do conceito de smart cities, com incentivo ao transporte público, uso de bicicletas com
ciclofaixas, instalação de bolsões de estacionamento e desvio de veículos
pesados para rotas alternativas em especial nos períodos noturnos. Segundo Juan Frías, a escolha de medidas se fundaram nos cálculos estabelecidos pelo mapa.
Como um dos maiores impactos na saúde da vizinhança irrompe pelo ruído de tráfego de veículos, a cidade de Valência vem fazendo tentativas com a solução do asfalto fonoabsorvente. Algumas medidas chegaram a uma redução na faixa entre 5 a 6 dbA. O pavimento, um microaglomerado de granulação descontínua com capas de três centímetros de espessura trouxe benefícios a algumas ruas a um custo de 5,4 milhões de euros. Mas, de acordo com Juan Frias, essa solução exige um alto grau de manutenção. “Por ser um mix asfáltico aberto, com muitos orifícios, acumula muita sujeira, o que exige uma limpeza periódica para manter as propriedades do pavimento”.
Ações que exigem obras ou instalações como barreiras acústicas foram implantadas em Valência mas, nem sempre, com o máximo de eficácia. “São Paulo tem prédios muito altos e, em alguns pontos, seria preciso construir barreiras acústicas elevadas demais para atenuar o ruído e isso não é sempre viável”, lembra Juan Frias. Outras medidas como o limite noturno de veículos, o desvio de pesados e soluções de baixa manutenção podem atrair pelo custo menor. A Bracústica chegou a fazer experiências com um falso túnel no elevado conhecido como Minhocão, em São Paulo, e obteve resultados próximos do silêncio total. Mas o custo seria alto.
Assim, a experiência da Espanha comprova que os mapeamentos de ruído urbano devem resultar de uma estratégia multidisciplicar com todos os agentes envolvidos. Quanto melhor o diagnóstico do ambiente acústico mais fácil para identificar os “pontos quentes” e direcionar as ações mitigadoras no sentido da redução do ruído urbano.