Os desafios do projeto acústico da nova unidade do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, situado em duas vias de ruído intenso

Prestes a completar 80 anos de existência, o Colégio Bandeirantes – uma das instituições de ensino particular mais tradicionais de São Paulo – inaugurou em fevereiro de 2023 uma nova unidade, que faz parte de um projeto de expansão.

Com consultoria da Ca2 Consultores nas áreas de acústica, conforto térmico, lumínico e sustentabilidade e projeto de arquitetura assinado pelo escritório Aflalo/Gasperini Arquitetos, o edifício, com uma área total de 18.242 m², faz parte de um masterplan concebido em três etapas de implementação.

Para atender às novas demandas de ensino, a edificação conta com 12 pavimentos, incluindo salas de aulas com layout flexível, uma biblioteca, refeitório, auditório, espaços de convivência e quadra descoberta na cobertura.

Um dos principais desafios do projeto de acústica, segundo Andrea Destefani, líder de acústica da Ca2 Consultores, “foi o isolamento em relação ao ruído externo, principalmente da Avenida 23 de Maio e Rua Cubatão, onde está localizada a escola. Além disso, foi elaborado um planejamento para que as obras de expansão não afetassem demasiadamente os demais edifícios em funcionamento da escola”.

Rua Estela
Rua Cubatão

As fachadas foram especificadas com áreas de abertura e vidros laminados com diferentes espessuras (10 e 12 mm com PVB acústico), conforme as simulações realizadas com o software Predictor-Lima, para atender ao nível de ruído interno de acordo com o uso do ambiente. As especificações do sistema de fachada compatibilizaram também os requisitos de conforto térmico e luz natural, essenciais ao bom funcionamento dos ambientes de ensino.

“Para a especificação de sistemas de esquadrias utilizamos o banco de dados da Ca2, dados de ensaios de laboratório dos fornecedores e software para as simulações”, aponta Destefani. Depois de determinado o nível de isolamento acústico das fachadas, foi calculado o tempo de reverberação das salas com base nos materiais, uso e volume de cada ambiente.  “O procedimento de cálculo se baseou nas metodologias de Sabinee Eyring.  Para as salas de aula padrão o tempo de reverberação estipulado foi de 0.6s. Dessa forma, visamos atingir STI acima de 0,75”, completa Destefani.

Em todos os ambientes foram realizados cálculos de área de absorção equivalente, levando em consideração todos os materiais de forro, paredes, pisos e mobília. Segundo Destefani, “no caso de escolas, temos uma limitação nas áreas de aplicação de material acústico por conta de manutenção e depredação do material. Portanto, focamos em aplicar forros acústicos, balanceando também com as demandas de interiores e arquitetura. Em algumas salas maiores ou de múltiplo uso, as divisórias retráteis foram revestidas em tecido”.

Acesso biblioteca
Circulação interna para salas de aula

As instalações de ar-condicionado, como fan coils, dimensionamento e encaminhamento de dutos também foram planejados para redução do ruído vibracional e aerodinâmico. Foram utilizados isoladores de vibração nos equipamentos e dutos, assim como atenuadores de ruído em áreas técnicas e em determinados trechos dos dutos. “Durante o processo de projeto alinhamos com a equipe de ar-condicionado as velocidades máximas em dutos e difusores conforme o critério NC de cada ambiente. Propusemos alterações no dimensionamento e curvas, assim como trechos com revestimentos internos em mantas de lã de vidro”, enfatiza Destefani.

Os critérios para níveis de ruído residuais foram baseados na NBR 10152.  Nas salas de aula, laboratórios, salas múltiplo uso, biblioteca e auditório, o critério adotado foi RLAeq 35 dB. Nas salas de professores e de reunião adotou-se o critério RLAeq 40 dB.

Salas de aula, laboratórios e salas múltiplo uso

Os sistemas de piso nos pavimentos de sala de aula contaram com contrapisos flutuantes para mitigação do ruído de impacto, através do uso de mantas resilientes sobre eles.

Os forros utilizados foram em gesso acartonado perfurado com mantas de lã de vidro de 50 mm aplicadas no plenum, visando a redução da reverberação e o atendimento ao conceito que o projeto de interiores desejava.

Com o intuito de promover espaços flexíveis – para atender às diferentes configurações de uso das salas e laboratórios e às novas demandas de ensino -, foram especificados o sistema de divisórias retráteis e os septos em drywall no plenum, para reduzir a transmissão sonora entre sala de aula e corredores.

As divisórias e portas entre salas e circulações foram executadas em madeira e vidro, com o melhor desempenho acústico disponível em mercado. Entre as salas de aula utilizaram-se divisórias em drywall com 4 placas de gesso acústicas, montantes metálicos duplos para estruturação e preenchimento em lã de vidro com 100 mm de espessura.

Todos os encontros entre divisórias, vedações em drywall e fachadas foram detalhados em conjunto com os projetos de arquitetura e de interiores, para redução de possíveis pontes acústicas ou falhas na execução.

Sala de Aula

Salas de professores

O edifício também contemplou uma nova sala de professores, salas de reunião, desenvolvimento pedagógico, coordenação e diretoria.

Nas circulações e salas destinadas aos professores e coordenação foram especificados forros acústicos em gesso acartonado perfurado e divisórias em vidros duplos com persianas integradas, para promover privacidade sonora e visual.

Entrada sala dos professores
Circulação interna para salas de aula

Biblioteca

Para atender ao conceito do projeto, a biblioteca recebeu um forro diferenciado em tecido tensionado retro iluminado, com manta de lã de vidro aplicada no plenum, demarcando a estrutura reticular do forro. Em outros trechos com o pé-direito mais baixo foi aplicado o mesmo forro em gesso acartonado perfurado.

Cabines de estudo individual ou para pequenos grupos foram propostas para uma melhor setorização do uso dentro do ambiente da biblioteca.

Alguns trechos dos revestimentos de parede também foram executados em madeira perfurada, ampliando assim, a área de absorção sonora.

Biblioteca: vista geral
Biblioteca: vista superior

Foyer e auditório

Os sistemas de piso entre salas e auditório, assim como na biblioteca, contaram com contrapisos flutuantes para redução do ruído de impacto, através do uso de mantas resilientes com 10 mm de espessura.

O forro do foyer e do auditório utilizou o mesmo conceito do gesso perfurado. No foyer foram inseridas luminárias em tecido e preenchimento em lã de vidro para atender às demandas de acústica, interiores e luminotécnica.

Foyer

Quadra poliesportiva

O posicionamento da quadra poliesportiva na cobertura do edifício, foi um dos desafios para a equipe de projeto, o que demandou o uso de lajes flutuantes apoiadas em isoamortecedores de vibração de 50x50x25 mm. Toda o encaminhamento das tubulações de esgoto e pluvial foram revestidos e desacoplados do restante da estrutura.

Nesse caso, esclarece Destefani, “fizemos um estudo junto à equipe de estruturas e fornecedor dos isoamortecedores para determinar a frequência natural do sistema, quantidade de isoladores e distribuição dos mesmos. Para as simulações complementares utilizamos o software INSUL”.

Quadra poliesportiva (cobertura)

Espaços de convivência

Os espaços de convivência, como pátios internos e circulações, também receberam forros acústicos em gesso acartonado perfurado para redução da reverberação. Como a escola possui turmas, com aulas e intervalos em horários diferentes, a preocupação era reduzir o ruído nessas áreas para obter melhor conforto acústico nas salas em aula.

Pátio interno
Pátio interno

Refeitório

O refeitório do colégio teve como critério adotado de RLAeq 50 dB e tempo de reverberação de 0.9s. Nos forros foram aplicados trechos em madeira e gesso perfurado. Em suas fachadas foram especificados com trechos em painéis móveis, dando flexibilidade de fechamento e abertura, quando necessário, visando proteger os outros ambientes de ensino do ruído proveniente do refeitório em uso.

Crédito imagens: ColdBand fotos, Daniel Ducci