Porto Alegre ganha teatro com alto nível de qualidade acústica
Recém-inaugurado, na avenida Nilo Peçanha, o teatro Unisinos exigiu da arquitetura um programa considerável: uma grande sala de aula, uma casa de música, teatro italiano e palco para espetáculos ao ar livre para apresentações sem amplificação, com silêncio e qualidade de audição. Para o consultor acústico do projeto, Marcos Abreu, “todas as simulações foram realizadas e escolhidos materiais para se obter o máximo em clareza, uma vez que a sala comporta cerca de 500 pessoas”.
O teatro do novo campus da Unisinos, em Porto Alegre, exigiu da arquitetura um programa considerável: uma grande sala de aula, uma casa de música, teatro italiano e palco para espetáculos ao ar livre para apresentações sem amplificação, com silêncio e qualidade de audição. Recém-inaugurado, na avenida Nilo Peçanha, o teatro Unisinos prevê um uso acadêmico e a utilização pública, com uma entrada pelo saguão da universidade, onde se localizam a bilheteria, chapelaria e a administração, com estacionamento e área de convivência com restaurantes. Para o arquiteto Tarso Carneiro, do escritório AT Arquitetura, responsável pelo projeto, o teatro ficou situado a 6 metros abaixo do nível da avenida. “E esse desnível proporciona um grande conforto acústico isolando o barulho do trânsito”. Segundo a enciclopédia online Wikipédia, “Porto Alegre tem um público considerável para a música erudita. Está no roteiro de maestros e concertistas internacionais, conta com duas orquestras de porte e duas orquestras de câmara. Além de vários grupos de música de câmara e música coral.
Do ponto de vista acústico esse multiuso criaria uma complicação pois para a orquestra e outros grupos o tempo de reverberação deve ser bem maior do que para um outro evento, como uma peça de teatro ou um show de rock. “Pensando nisso e no tempo que a orquestra utilizaria o espaço, todo o projeto foi realizado com a meta de se atingir um RT (reverberation time) de 1,5 segundos”, explica Marcos Abreu, que trabalhou junto com a equipe da AT Arquitetura no projeto acústico do teatro Unisinos. Segundo Abreu, “sendo uma sala para cerca de 500 pessoas, todas as simulações foram realizadas e os materiais escolhidos para se obter o máximo em clareza”.
Foto: Juliana Borgmann
Marcos Abreu colaborou como consultor, já que não é nem arquiteto nem engenheiro civil mas engenheiro eletrônico. Ele conta que entrou no projeto a convite do maestro Evandro Matté, atual diretor artístico da orquestra sinfônica de Porto Alegre. Abreu gravou por quase 30 anos todos os concertos oficiais da Sinfônica de Porto Alegre. “Meu conhecimento de música erudita não é apenas o de ouvinte de CDs, mas de escutar orquestras pelo mundo, ao vivo, e de gravar as que temos aqui no sul”.
Foto: Juliana Borgmann
Isso obrigou o engenheiro a trabalhar integrado à equipe de arquitetura fazendo as correções e a seleção de materiais para obter o máximo em design e desempenho acústico. Como o teatro ficou instalado sobre o estacionamento do prédio, o projeto demandou um isolamento de piso. Algumas soluções foram suportar o piso com pads de borracha; o forro ficou pendurado com molas na laje externa, que do lado de fora, possui uma camada verde, que atua como isolamento. As paredes laterais, duplas, foram isoladas com pendurais de borracha. Assim, a sala ficou pendurada e isolada.
Foto: Juliana Borgmann
Nesse tipo de sala, o aumento da dissimilaridade, ou seja, da diferença entre os sons recebidos pela plateia, pelas laterais, requer paredes difusoras. Com a ajuda do software Reflex da AFMG, pensando em estruturas binárias, Marcos Abreu desenvolveu paredes difusoras binárias. “Sendo quase aleatórias, a arquitetura encarregou-se de distribuir os módulos pelas paredes laterais da plateia. Com a utilização do Reflex consegui com que todo o som vindo do palco, dentro de uma determinada faixa de frequências fosse espalhado na plateia de forma a seguir para o fundo da sala”.
A parte superior da plateia e o fundo da sala foram mantidos absorventes com a utilização de paredes compostas por chapas de drywall perfuradas que oferecem elevado índice de absorção de ruídos. O forro da sala, seguindo a ideia de absorção, foi revestido com lã de vidro coberta com véu de vidro. A ideia inicial era a aplicação de placas refletoras móveis de madeira, no sentido horizontal, dispostas com ângulos variáveis e de forma aleatória, para espalhar e produzir difusão do som vindo do palco. “Mas, por contingências de orçamento, projeto, pé-direito, sprinklers, iluminação e ar-condicionado, foram sofrendo reduções. Deixaram de ser móveis, ficaram fixas e tiveram a largura reduzida para 30 centímetros.” Como resultado, aumentou a área aberta de absorção e o tempo de reverberação ficou reduzido.
Para a utilização com orquestra ou música acústica foram instalados 20 painéis de acrílico transparente sobre o palco, com possibilidades amplas de regulagem de ângulo e altura, para melhor projeção de som para a plateia. Os fechamentos laterais e o fundo do palco acompanham a estrutura das paredes, com a alternativa de usar os painéis dos lados interno e externo. No fundo do palco, quando fechado, complementam a vedação da parede de vidro para o exterior, formando uma camada de ar e duas paredes. Nas laterais, os painéis são refletores de um lado e difusores de outro. Há a opção de giro, pois os painéis estão em um trilho e podem girar 360 graus sobre esse eixo, podendo variar de difusor para difusor em qualquer ângulo.
Para o arquiteto Tarso Carneiro, “a configuração do palco para espetáculos ao ar livre é a característica mais marcante do Teatro Unisinos, um ponto de contato da universidade com a vizinhança”. O fundo do palco se compõe de painéis de 14 m de largura por 3,80 m de altura, que se abrem para o pátio dos alunos. As duas paredes do fundo do palco correm de forma independente, uma em cada camada do box-in-box. A camada externa é de vidro, a interna de madeira. A de madeira ficou isolada por amortecedores. Em verdade são paredes móveis ou partition walls, fabricados em Novo Hamburgo. Para espetáculos ao ar livre dá para acomodar em torno de 450 pessoas no pátio, mais umas 550 nas arquibancadas existentes no nível térreo. Como o fundo do palco necessitava de uma envazadura que abrisse para a rua, as portas, de vidro duplo e com vedação completa em todo o perímetro, o nível de isolamento seria de 42 dB, segundo o fabricante. “Mesmo assim, precisaríamos de mais isolamento, se consideramos um nível de ruído de até 90 dB na via”, argumenta Marcos Abreu.
A configuração de sala de música tem o palco aberto para plateia, sem a existência de qualquer vestimenta como cortinas, bambolinas ou pernas, que pudessem interferir ou abafar o som da orquestra. Para a configuração de teatro italiano são instaladas cortina mestra e complementos laterais nos camarotes, pernas e rotunda, permitindo a realização de vários tipos de espetáculo. Para ser chamado de “teatro”, o espaço teria de ter o dobro do pé-direito para acomodar cenários. A sala foi planejada de forma a ser absorvente com a aplicação de materiais refletores e difusores, retornando a reverberação ao tempo desejado de 1,5 segundos e sem reflexões ou ressonâncias indesejáveis, como uma volta com atraso do fundo da sala.
No palco, existem opções de iluminação, varas de cenário e urdimento, que podem ser aplicados conforme a necessidade. Para Marcos Abreu, “o resultado final, ainda depende de alguns ajustes, pois o tempo de reverberação ficou em 1,2 segundos. Curto para a orquestra mas com alto índice de inteligibilidade em toda a plateia. O nível de ruído de fundo está em 27 dB com o palco fechado. Algumas placas do forro ainda deverão ser modificadas para se obter um tempo extra de reverberação para as apresentações de orquestra”.
Foto: Juliana Borgmann