Novo presidente da Sobrac, Newton Sure Soeiro, fala sobre os desafios da área de acústica e vibração
O novo presidente acaba de ser eleito para presidir a Sociedade Brasileira de Acústica, em evento realizado pela entidade em outubro, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Aqui ela fala sobre seus objetivos, entre eles, criar grupos de trabalho em subáreas da acústica e vibração, contribuir com o desenvolvimento técnico científico, ampliar a formação de recursos humanos especializados, em parceria com as instituições de ensino das diversas regiões do Brasil.
O professor Newton Sure Soeiro, graduado em Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Pará, e mestre e doutor na área de vibração e acústica, pela Universidade Federal de Santa Catarina, acaba de ser eleito para presidir a Sobrac (Sociedade Brasileira de Acústica), em evento realizado pela entidade em outubro, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Professor associado da Universidade Federal do Pará, dos cursos de Engenharia Mecânica e Engenharia Naval, Soeiro é diretor adjunto do Instituto de Tecnologia (Itec) e coordenador do Grupo de Vibrações e Acústica (GVA). Nessa entrevista, exclusiva ao ProAcústica News, o novo presidente da Sobrac fala sobre seus objetivos, entre eles, criar grupos de trabalho em subáreas da acústica e vibração, contribuir com o desenvolvimento técnico-científico, ampliar a formação de recursos humanos especializados, em parceria com as instituições de ensino das diversas regiões do Brasil.
Para Soeiro, a Sobrac e a ProAcústica são instituições importantes, que podem agir de forma complementar, trazendo benefícios para a comunidade de acústicos do Brasil. “Enquanto a Sobrac tem um perfil associado ao desenvolvimento da pesquisa e do conhecimento, a Proacústica congrega uma comunidade que faz aplicação desse saber, na prática, através de serviços e produtos ofertados à sociedade.
Após a eleição, quais os principais objetivos da sua gestão frente à Sobrac?
Nossos objetivos são os de honrar as propostas que foram formuladas e registradas na ocasião da inscrição da chapa eleita. A chapa foi formada de modo a se ter representantes de regiões distintas do Brasil, com uma sólida formação e atuação na área de Vibração e/ou Acústica, áreas de conhecimento que dizem respeito à atuação da Sobrac. Por outro lado, destacamos que vários são os objetivos da Sobrac, entre eles, contribuir para o desenvolvimento da acústica e suas áreas; promover a pesquisa, intercâmbio e difusão desses conhecimentos; estimular o intercâmbio entre os agentes envolvidos com a acústica, em qualquer nível de governo, entidades e em outros países.
Fale um pouco sobre a Sobrac e sua importância para o setor de Acústica no Brasil. Qual o perfil e quantos são os associados?
A Sociedade Brasileira de Acústica, fundada em 21 de novembro de 1984, agrega pessoas físicas (pesquisadores, profissionais e estudantes), bem como instituições públicas e privadas (indústrias, prestadores de serviços, órgãos governamentais, universidades etc.) e todos os interessados nas áreas inerentes à sua atuação. O alvo é a compreensão dos mecanismos de produção, transmissão, controle e recepção do som e das vibrações. Os associados são pessoas físicas e jurídicas interessadas no desenvolvimento de acústica e vibrações, suas subáreas e atividades afins, e são designados de forma legal como: efetivo, estudante, institucional, benemérito e honorário. Com base em recente levantamento, a Sobrac registra um total de 557 associados: 404 efetivos, 136 estudantes e 17 institucionais.
A quais ações pretende dar continuidade e quais as novas medidas a serem implementadas?
Nossos compromissos dizem respeito à manutenção e aprimoramento das ações que vêm sendo desenvolvidas pela atual diretoria executiva da Sobrac, da qual fiz parte na condição de vice-presidente, na parte legal e no maior reconhecimento por parte de instituições governamentais federais, estaduais e municipais; entidades de classe (Sistema Confea/Crea, Abenge, ABA, ABCM, ProAcústica, etc); entidades industriais (Federações das indústrias); sociedade civil (ABNT, Sesc, Senai, etc); imprensa e outros. Por outro lado, destaco como novas ações a criação de grupos de trabalho em subáreas da acústica e vibração, de modo a contribuir com o desenvolvimento técnico científico, possibilitando ampliar a formação de recursos humanos especializados, no âmbito da Sobrac, em parceria com as instituições de ensino das diversas regiões do Brasil, através das suas regionais.
Qual a sua avaliação sobre a ProAcústica e quais devem ser as parcerias que podem ser firmadas entre as duas entidades?
A Sobrac e a Proacústica são instituições importantes, que podem agir de forma complementar, pois isso se traduz em benefícios para a comunidade de acústicos do Brasil. Enquanto a Sobrac tem um perfil associado ao desenvolvimento da pesquisa e do conhecimento, a Proacústica congrega uma comunidade que faz aplicação desse saber na prática, através de serviços e produtos ofertados à sociedade. Ao atuarem conjuntamente, ambas se fortalecem, como na solicitação conjunta para trazer ao Brasil, o prestigioso Internoise, em 2018.
Diante do crescimento das cidades, haverá um aumento da demanda por conforto acústico e por profissionais de acústica? O Brasil está preparado para isso?
O Brasil está se preparando para isso. A Sobrac está atenta e vem realizando, por exemplo, importantes ações como o programa de certificação de competências para medições em acústica e vibração. A sociedade vai exigir cada vez mais ambientes acusticamente adequados para o desempenho de atividades laborais e descanso/lazer, o que valorizará ainda mais as iniciativas promovidas pela Sobrac.
A legislação existente no país em relação à poluição sonora é suficiente? Como promover a integração dessas legislações em nível nacional e estadual e municipal?
A legislação brasileira relativa à poluição sonora, frequentemente, remete às normas técnicas, como a NBR 10.151 e NBR 10.152. Por isso, o nosso foco são as normas técnicas. O processo de atualização de normas técnicas é demorado, pois a sociedade brasileira está aprendendo a se engajar e participar. O país possui dimensões continentais, e precisamos de normas em nível nacional, que sejam capazes de fazer sentido de norte a sul. As legislações estadual e municipal devem ser capazes de trazer suas peculiaridades regionais para dentro das normas. À medida em que formos aprendendo a formular e aprimorar nossas normas, num processo que é praticamente contínuo, teremos cada vez mais instrumentos de apoio para resguardar a qualidade de vida das pessoas, sob o ponto de vista da acústica e vibração. Isto envolve um profundo senso de comprometimento de todos aqueles envolvidos nestas áreas do conhecimento e, certamente, transcende esta gestão da Sobrac. Apesar disso, e por isso mesmo, a nova diretoria da Sobrac está empenhada em facilitar este processo e comprometida em estimular a participação crescente de seus associados nos processos de criação e aperfeiçoamento de normas técnicas da área. Uma vez que as normas contemplem, tecnicamente, as particularidades regionais, elas serão adotadas com mais facilidade pelas legislações estaduais e municipais, cuja competência é complementar à legislação federal ambiental.
As autoridades municipais estão conscientes de que a elaboração de um mapeamento acústico é fundamental para a gestão do ruído urbano nas grandes cidades?
A pequena quantidade de cidades com mapas acústicos concluídos no país leva a crer que a as autoridades municipais não estão sensibilizadas para o problema do ruído urbano. Esse é, sem dúvida, um tema de fundamental importância por envolver questões de saúde de milhões de pessoas, muito além da saúde meramente auditiva. O ruído em excesso provoca distúrbios de toda ordem, gerando um custo social difícil de ser quantificado. Ter consciência da importância de um mapa acústico é ter consciência da importância da saúde dos cidadãos. A acústica e as vibrações são temas importantes para a sociedade em geral. Portanto, necessitamos de ações que conscientizem as pessoas, no que diz respeito à qualidade de vida, possibilitando, assim, uma mudança de paradigma. Precisamos todos trabalhar unidos para concretizar esse objetivo.
Qual a sua opinião sobre Belém (PA) e Fortaleza (CE), primeiras cidades brasileiras a terem Carta Acústica?
Fortaleza e Belém são cidades que tomaram consciência mais cedo dos problemas de saúde causados pelo ruído na população, e estão na vanguarda do conhecimento da produção de mapas acústicos. Belém foi a primeira capital no Brasil a fazer mapa acústico (2004) e Fortaleza a segunda (2012/2013). Essa consciência demanda ações contínuas, pois os mapas necessitam ser atualizados a cada cinco anos, de modo que isso deve estar acima de questões políticas, quando um gestor não dá continuidade nas ações da gestão anterior. Por isso, a Sobrac deve trabalhar, através dos seus braços regionais, para incentivar a sociedade a demandar a atualização e expansão dos mapas acústicos de suas cidades, dentre outras medidas.
As normas técnicas de acústica estão em revisão há mais de dois anos? Por que há essa demora no processo de revisão?
Na verdade, essa demora ocorre porque somos uma sociedade em processo de aprendizagem neste quesito de desenvolver, adaptar e aperfeiçoar normas técnicas nas nossas áreas de conhecimento. As dimensões do país, o custo para participar das reuniões que debatem as normas, a falta de conscientização da importância de se participar, as pressões exercidas pelos mais diversos setores para introduzir modificações nas normas que melhor lhes atendam, todos estes são pontos bastante polêmicos que contribuem para a demora no processo de revisão. Mas estamos aprendendo! Por outro lado, é importante destacar que a área de acústica e vibrações é muito mais ampla do que apenas os temas envolvidos com ruído urbano e acústica de edificações, o que faz com que membros da Sobrac tenham participação destacada em vários comitês da ABNT, como, por exemplo, questões envolvendo potência sonora de eletrodomésticos, ruído aeroportuário, desempenho de aparelhos auditivos, etc.
A Norma de Desempenho já está em pleno vigor. O mercado (projetistas, fornecedores e construtoras) está preparado para atender às exigências em termos de acústica?
A Norma de Desempenho vem causando uma revolução na área de edificações no país e, como toda novidade, traz consigo a necessidade de novos aprendizados, desenvolvimento de novas competências e o mercado está se preparando rapidamente para seu completo atendimento. A acústica demanda um profundo conhecimento de base teórica, que precisa ser respeitado no momento da execução dos mais diversos projetos. A sociedade como um todo deve desenvolver a consciência sobre este instrumento técnico, que pode trazer inúmeros benefícios para seus momentos de lazer, descanso e conforto, de modo a cobrar fortemente o atendimento à NBR 15.575.
Qual a importância da comprovação, por meio de ensaios, do desempenho de materiais e produtos de acústica? Como o setor deve se organizar e o que os fabricantes devem fazer para caracterizar seus produtos e sistemas?
É fundamental que todos os produtos sejam ensaiados em laboratório, pois essa base de informação é utilizada em cálculos e simulações acústicas. Em se tratando de desempenho, a NBR 15.575 aborda esse tema e refere-se ao isolamento acústico. Cada tipologia de produto deve ter seus próprios laudos com dados que são específicos de cada material, com determinadas características (espessura, densidade, forma de fixação, etc). A carência de laboratórios no Brasil dificulta isso um pouco. Será necessária a criação de novos laboratórios de acústica e vibração, e capacitação de mão-de-obra especializada, por grupos de empresas, em parceria com universidades federais. Isso propiciaria uma economia de longo prazo, evitando custos adicionais com o lançamento de novos produtos.