Bicicletada e caminhada no Minhocão marcaram o Inad SP 2019
No Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído – Inad SP, a ProAcústica lançou o Mapa de Ruído Urbano Centro. O grande evento planetário para chamar a atenção sobre o problema do barulho urbano começou de manhã com a montagem de uma estação de medição sonora, na janela de um apartamento no minhocão. À noite, um animado público passeou de à pé e de bicicleta pelo elevado com balões iluminados por LED para dar a Volta do Silêncio. A prefeitura tem anunciado a desativação gradual do elevado.
Como ação de esclarecimento sobre os males da poluição sonora para a saúde pública, a ProAcústica – Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – organizou mais um Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído, o Inad SP 2019, com uma bicicletada e uma caminhada noturna pelo elevado Minhocão, no último dia 24 de abril. O clima noturno, no horário em que o Minhocão fecha para a circulação de automóveis, contribuiu para advertir os moradores para a necessidade de pensar sobre uma cidade mais saudável. O público saiu à pé e de bicicleta com balões iluminados por LED para participar da Volta do Silêncio.
A ProAcústica reservou algumas atrações como as bicicletas da Yellow acessíveis por QR Code. “Além da beleza da manifestação, foi um dos Inads mais animados que a gente já organizou”, declarou Marcos Holtz, arquiteto e vice-presidente de Atividades Técnicas da ProAcústica. Em fevereiro, a prefeitura havia anunciado a desativação gradual do elevado e a criação do primeiro trecho do Parque Suspenso do Minhocão.
O ponto de encontro da Volta do Silêncio foi na praça Roosevelt. Por volta das oito horas da noite, os participantes começaram a chegar. Às 20h30 começou o percurso e, minutos depois, a bicicletada parou para fazer o manifesto: 60 segundos de silêncio. Cerca de 40 minutos depois, todos voltaram para a praça Roosevelt onde foi encerrada a programação. Assim como ocorreu no Minhocão, o manifesto com um minuto de silêncio é comemorado em várias cidades do mundo.
O grande evento planetário para chamar a atenção sobre o problema do barulho urbano começou de manhã com a montagem de uma estação de medição sonora, no interior de um apartamento nas imediações do Minhocão. Os dados captados eram projetados em tempo real em um monitor instalado numa tenda, na Praça Roosevelt.
Outro acontecimento em torno do Inad SP foi a lançamento do Mapa de Ruído Urbano Projeto Piloto SP, dentro da Operação Urbana Centro, que abrange uma área de mais de 6 km2. O mapa, disponível online, segue as diretrizes da Lei No 16.499, que prevê que o mapeamento deve ser iniciado pelas Operações Urbanas de São Paulo. O Mapa de Ruído Centro SP foi elaborado nas regiões que abrangem o Centro Velho, o Novo e bairros históricos como Glicério, Brás, Bexiga e Vila Buarque.
O Mapa de Ruído Centro SP, foi inserido no site – www.mapaderuidosp.org.br – depois de ser elaborado pelo grupo de trabalho GT Mapa de Ruído, do Comitê Acústica Ambiental da ProAcústica, sob coordenação de Juan Frías, que vem seguindo as diretrizes estabelecidas pelo projeto piloto iniciado em 2018 com as melhores práticas de mapeamentos acústicos. “O mapa é um poderoso instrumento para a sociedade identificar as zonas críticas e induzir políticas públicas para estabelecer planos de ações de mitigação dos problemas”, declarou Frías.
Para a calibração do mapa foram eleitos 62 pontos de medição, sendo que um segmento da área inclui o trecho entre a Praça Roosevelt e o Largo do Arouche do elevado Presidente João Goulart, como é chamado, em São Paulo, o Minhocão. A região do Centro, que possui muitas avenidas, elevados, cruzamentos, túneis e passarelas, reflete um cenário complexo para a modelagem do mapa. Como fontes sonoras foram consideradas, além do tráfego rodoviário, os metrôs, terminais de ônibus e áreas de circulação de pedestres. O trabalho envolveu dez empresas no Comitê Ambiental: 01db Acoem, Acoustic Control, Acústica & Sônica, Akkerman Alcoragi, AtenuaSom, Bracústica, Ecoa, Giner, Grom e Harmonia – além da Datakustik empresa parceira que disponibilizou especialistas e softwares para a geração dos mapas.
Por meio do poder legislativo, as entidades setoriais – entre as quais o Secovi SP, Sinduscon SP e ProAcústica – junto com organizações da sociedade civil, buscam não só reconhecer o problema mas encontrar soluções de enfrentamento e combate às diversas formas de poluição sonora. Essas organizações vêm atuando, desde 2014, de forma intensiva, num esforço conjunto para a realização das três edições 2016, 2015 e 2014, da Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora, e na realização, a cada ano, do Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído.
Um dos resultados dessa mobilização foi a legislação de 2016 que instituiu a obrigatoriedade de implantação do mapeamento no município de São Paulo. Em fevereiro de 2017, a prefeitura paulistana foi designada responsável pela regulamentação da lei e, com o apoio da ProAcústica, constituiu um grupo gestor com representantes das secretarias de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), de Mobilidade e Transportes (SMT), da Saúde (SS), de Educação (SME), das Prefeituras Regionais (SMPR), da São Paulo Urbanismo e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Hoje, a atual Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) é a parceira da ProAcústica no Mapa de Ruído Centro SP.
Estudo comparativo
A parceria com SMDU resultou na realização de um estudo comparativo específico para os cenários acústicos entre as residências do elevado Minhocão, na ausência do tráfego de veículos que circulam pelo local. O estudo envolveu uma estimativa do potencial de redução de ruído do elevado, caso o Minhocão estivesse inativo, e chegou a uma diminuição de até 10 dB em algumas fachadas, o que, em termos de sensação, seria equivalente a reduzir pela metade a sensação de volume sonoro. Para Holtz, existem fatores psicológicos na percepção do som. “Entre o alvoroço de crianças brincando e o de um buzinaço, mesmo que os dois atinjam 60 dB, o cérebro humano entende o som da vida como positivo”, explica o arquiteto.
O estudo, realizado a partir de medições e simulações, apresentou níveis sonoros entre 69 e 76 dB com o viaduto em operação, enquanto que, interditado ao tráfego, apenas com o fluxo existente na rua Amaral Gurgel, o nível sonoro pode cair até valores entre 59 e 70 dB, sendo que os resultados finais dependerão das estratégias de redução do ruído adotadas.
Existem tratamentos absorventes ou fechamentos acústicos que podem contribuir para reduzir o ruído remanescente mas isso exigiria planos de ação para mitigar o ruído. Algumas possibilidades poderiam corrigir excessos como a inserção de materiais fonoabsorventes embaixo do Minhocão; a instalação de túneis acústicos; a mudança do asfalto da via e a proibição de buzinas no local. O estudo, é claro, não prevê os ruídos que o parque traria no futuro. “Isso depende de como será o projeto do parque ou se vão usar algum tipo de absorção acústica”, explica a gerente de Atividades Técnicas da ProAcústica, Priscila Wunderlich.
O icônico e polêmico Minhocão vem gerando desconforto e reclamações por parte população desde a época em que foi entregue, em 1971. Em média, 70 mil veículos circulam por dia pelo elevado. Além da poluição do ar e da falta de privacidade, os moradores dos edifícios vizinhos sofrem com o ruído.
A repercussão das iniciativas da ProAcústica vêm alcançando outros centros urbanos como a cidade de Blumenau, em Santa Catarina. No dia anterior ao Inad 2019, o engenheiro e representante da ProAcústica, Rafael Schmitt, ocupou a tribuna livre da Câmara Municipal de Blumenau para falar de poluição sonora e aproveitou para convidar a comunidade a participar do Manifesto do Silêncio. Schmitt apontou os principais problemas de saúde provocados pela poluição sonora, como perturbação, distúrbios, estresse, pressão e colesterol altos. “Cerca de 6% das pessoas do mundo possuem perda auditiva e, em 2050, esse número deve subir para 9%”, mencionou o engenheiro.
Nos centros urbanos, de maneira geral, os bairros residenciais resistem mais à geração de barulho e poderiam começar a adotar as medidas para mitigar a poluição sonora antes que vire um desafio gigantesco. Algumas medidas incluem modificações na circulação de vias, melhorias no asfalto, construção de barreiras acústicas e redução da velocidade permitida para veículos. “Fazer ciclovias e incentivar o uso de bicicletas e patinetes também ajudam, porque são muito mais silenciosas”, conclui Holtz.