Eventos de 2016 agregaram conhecimentos e novas abordagens
A comunidade de acústicos que esteve presente nos principais acontecimentos de Hamburgo, Buenos Aires e La Plata, foi convidada pelo ProAcústica News a fazer uma avaliação das recentes edições do Inter-Noise, do ICA e do evento satélite IMSR.
A solenidade de encerramento chega ao fim, os participantes trocam os últimos comentários e todos voltam para casa. Mais um simpósio, evento ou congresso reuniu profissionais em torno de um tema. Algumas vezes, porém, os conhecimentos se dissolvem na volta ao cotidiano do trabalho e da vida pessoal. Mas a comunidade de acústicos que esteve presente nos principais acontecimentos de 2016 não quer que as informações se percam e foi convidada pelo ProAcústica News a fazer uma avaliação das recentes edições do Inter-Noise, do ICA e do evento satélite IMSRA.
Um dos principais eventos mundiais ocorreu no Congress Center de Hamburgo, na Alemanha, o 45o Congresso e Exposição Internacionais de Engenharia de Controle de Ruído, o Inter-Noise 2016, entre os dias 21 e 24 de agosto passados. Para o presidente da ProAcústica, Edison Claro de Moraes, chamou a atenção a enorme quantidade de papers apresentados no Inter-Noise sobre janelas acústicas ventiladas – com duas vertentes – a eletrônica active-noise e a natural com dutos e labirintos. As eletrônicas, em especial da França e do Japão, funcionam pelo sistema de active window noise-cancelling em que uma onda negativa anula a onda sonora da fonte; e as janelas acústicas naturais com labirintos inseridos em dutos condutores que deixam passar a ventilação mas barram o som. Claro arriscou um número de presentes ao evento: entre 1000 a 1200 pessoas; mas considera que o Brasil ficou pouco representado.
A assembleia geral do I-INCE, International Institute of Noise Control Engeneering, reunida em Hamburgo, elegeu o novo representante da região pan-americana no Congress Selection Comitee e o candidato brasileiro Davi Akkerman foi o mais votado. Aos participantes do Inter-Noise foi apresentado um “trailer” do próximo congresso em Hong Kong, marcado para agosto de 2017. Como está prevista uma rotatividade de continentes para sediar o congresso, ficou confirmado que, em 2021, o evento será na região pan-americana, quando deve acontecer a edição de número 50. Está em andamento uma negociação preliminar com os norte-americanos para a realização de um trabalho conjunto. Em 2018, o Inter-Noise está confirmado para acontecer em Chicago. Em 2019, a sede será em Madri.
Para Davi Akkerman, vice-presidente de atividades técnicas da ProAcústica, a proximidade do centro de eventos com o hotel Radisson aumentou a comodidade dos participantes. Nas 15 sessões paralelas em três dias de congresso vários tópicos do programa atraíram o interesse em torno do tema central: “por um futuro mais silencioso”. Akkerman citou alguns desses tópicos: técnicas de medições, ruído de tráfego, auralização, acústica de edifícios, ruído industrial, acústica numérica, ruído e saúde, psicoacústica, controle ativo de ruído, qualidade sonora, paisagem sonora, planejamento sonoro urbano, política ambiental, educação de acústica e acústica de veículos. No total, foram 1.132 papers apresentados, seis cursos rápidos – um desses ministrado pelo professor Samir Gerges -, seis palestras para convidados e duas visitas técnicas.
Na visão de Luciano Marcolino, vice-presidente de comunicação e marketing da ProAcústica, um assunto muito debatido no Inter-Noise foram as barreiras acústicas usadas em rodovias, linhas de trem ou metrô, para reduzir o ruído junto à vizinhança. Ele deu como exemplo interessante as barreiras fotovoltaicas, com painéis solares que, além de influenciar o caminho da propagação do ruído entre a fonte e o receptor, podem gerar energia. Luciano Marcolino concorda que a utilização de barreiras acústicas no Brasil ainda é pequena mas acredita que, com a implantação de mapeamentos de ruído nas principais cidades, a indústria desses dispositivos deverá crescer.
A feira de expositores reuniu mais de 60 estandes de 6 m2 cada, no salão onde ocorriam refeições e coffee breaks, para mostrar materiais, soluções de tratamento acústico e anti-vibratório, instrumentos de medição, software e serviços na área de acústica.
Em setembro, aconteceu no edifício San José da Universidade Católica da Argentina, no bairro de Puerto Madero, em Buenos Aires, o Congresso Internacional de Acústica, o evento trienal que reúne profissionais de todas as partes do mundo, pela primeira vez em um país da América do Sul. De 5 à 9 de setembro, o ICA fez parte de um esforço conjunto da Federação Iberoamericana de Acústica (FIA) e da Associação de Acústicos da Argentina (AdAA), em cooperação com a Sociedade Chilena de Acústica (Socha), com o endosso da International Commission for Acoustics (ICA). Em paralelo, o X Congresso Iberoamericano de Acústica (FIA 2016), o XIV Congresso Argentino de Acústica (AdAA) e o XXVI Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac). Alguns dias depois do ICA, em La Plata, as atenções se voltaram para o IMSRA.
O ICA trouxe uma plenária, palestras e painéis que cobriram vários aspectos como materiais, sistemas e equipamentos relacionados à acústica. Segundo um dos participantes, o engenheiro Juan Frias (da Bracústica), o ICA representou uma rara oportunidade para conhecer as linhas de pesquisa de países da América do Sul e Central. Frias salientou os casos de mapeamento de ruído em cidades da Argentina, Chile, Colômbia e México. Ele concorda com a opinião de alguns colegas de que o Brasil, como motor econômico da América do Sul, ficou para trás no território dos mapas de ruído. Frias acompanhou com especial interesse, apresentações de norma como a DIN alemã para acústica em ambientes fechados e a norma europeia de classificação de prédios residenciais.
Julio Cordioli, professor no departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina, que trabalha com métodos numéricos em acústica e vibrações, análise de ruído e vibrações em aeronaves e acústica submarina, durante o ICA, buscou inovações na área biomédica e de implantes cocleares. Como ele já trabalhou na área de engenharia de ruído e vibrações na Embraer, procurou apresentações e painéis ligados à aeroacústica. Para Cordioli, muitos temas exibidos no ICA poderiam ser embriões para outros eventos no Brasil.
O IMSRA, evento satélite do ICA, que cobre acústica de salas e, agora, música, ocorreu esse ano em La Plata. Na percepção de Stelamaris Rolla Bertoli (presidente eleita da Sobrac), o IMSRA trouxe trabalhos importantes de pesquisadores de renome, com painéis de personalidades tops e figuras importantes circulando pelo evento. “Muitos desses profissionais foram citados como referências em nossos próprios trabalhos”, lembrou Bertoli. O assunto música ficou separado das salas de apresentação ou de performance, uma das áreas da atuação da professora da Unicamp. Algumas sessões misturaram temas como gravação e auralização.