O universo da acústica aplicada possui papel fundamental no desenvolvimento de cidades e edificações mais sustentáveis e saudáveis. O setor trabalha com formulações técnico-científicas que, quando bem articuladas com políticas públicas e privadas, são fundamentais para a criação de contextos urbanos pautados pelo bem-estar e pela saúde comum. Isso significa que a acústica estará nas próximas décadas como um dos itens principais das maiores demandas globais.

Edifício de uso misto Oscar Ibirapuera, de autoria do escritório de arquitetura Perkins+Will.

O universo da acústica aplicada possui papel fundamental no desenvolvimento de cidades e edificações mais sustentáveis e saudáveis. O setor trabalha com formulações técnico-científicas que, quando bem articuladas com políticas públicas e privadas, são fundamentais para a criação de contextos urbanos pautados pelo bem-estar e pela saúde comum. Estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelas atividades humanas sejam provenientes da construção civil. O setor é responsável por grande impacto causado por resíduos líquidos, gasosos e poluição sonora. Ao mesmo tempo, em meio a pandemia da Covid-19, os apelos da comunidade internacional pela intensificação de ações conjuntas para a melhoria da qualidade de vida voltaram com força total. A tendência dessas reivindicações, nos próximos anos, é crescer ainda mais.

Isso significa que a acústica estará nas próximas décadas como um dos itens principais das maiores demandas globais. Nesse sentido, o mercado tem consciência de que possui papel relevante e que essas circunstâncias são, em verdade, uma grande oportunidade. Avançar em algumas frentes, entre elas, a da harmonização cada vez maior entre a tecnologia acústica e os processos construtivos e de arquitetura e urbanismo; na inovação e gestão dos processos produtivos, tecnológicos e ferramentais, com a introdução de elementos da economia circular e análise do ciclo de vida de produtos; e o desenvolvimento de normas técnicas e métricas que orientem os atores do segmento é um caminho sem volta.

“Com certeza as soluções acústicas estão ganhando maior protagonismo. Ainda mais, após 2013, ano em que a Norma de Desempenho ABNT NBR 15575 trouxe critérios acústicos para os empreendimentos e os clientes perceberam que existem soluções que garantem maior conforto e saúde. Até então, muitos não sabiam que existiam essas soluções e que deveriam cobrar das construtoras”, afirma Rafael Safra, diretor da empresa associada Aubicon

Alinhar a acústica sustentável para promover maior eficiência energética é indispensável nos projetos atuais. Um bom exemplo é o edifício de uso misto Oscar Ibirapuera, de autoria do escritório de arquitetura Perkins+Will, que é certificado AQUA-HQE, da Fundação Vanzolini.

Edifício de uso misto Oscar Ibirapuera, de autoria do escritório de arquitetura Perkins+Will.

Segundo as consultoras Raquel Rossatto e Bárbara Fengler, coordenadoras de projetos da empresa associada Giner, responsável pelo projeto acústico do empreendimento, “as áreas residenciais apresentaram desempenho acústico superior ao da norma ABNT NBR 15575. Já nos espaços corporativos, onde o Sistema Building Shell foi completamente envidraçado, o estudo demonstrou que o conforto e desempenho acústico dos vidros reduziram o uso e custo de energia com a climatização dos ambientes. A fachada de vidro proporciona entrada de luz natural, o que reduz a utilização de energia para iluminação artificial dos ambientes”, explicam as consultoras.

Mapa de ruído do entorno do empreendimento. Empresa Associada Giner é responsável pelo projeto acústica.

Segundo Fernando Neves, responsável peloDesenvolvimento de Mercado – Acústica & Design, da Saint-Gobain do Brasil, nos próximos anos, no pós-pandemia, a ventilação e a circulação de ar em ambientes corporativos ganharão uma importância considerável. “É certo que teremos requisitos e mudanças na forma de projetar para o mercado corporativo. Será necessário identificar necessidades que agora vão muito além das disciplinas de conforto térmico, acústico, iluminação e design, incluindo, por exemplo, cálculos da taxa de renovação de ar com maior rigor e controle, com o objetivo de garantir a saúde dos usuários”, explica Neves.

O retorno do ar condicionado também deverá ser estudado no que diz respeito às sessões dos dutos que deverão estar isolados para atender as questões térmicas, mas também deverão atenuar parte dos ruídos evitando o desconforto acústico e retorno equivocado do sistema aberto (Plenum), em situações com forro aplicado, explica Neves. “As salas de reuniões deverão estar preparadas para receber cada vez mais seções de vídeo conferências e teleconferências, controlando a reverberação do som dentro destes espaços. Para atender às novas demandas, os produtos e soluções deverão acompanhar estes projetos no sentido de compatibilizar todas estas interfaces”, ressalta.

Nas últimas décadas a construção civil avançou em tecnologias e sistemas construtivos que ajudam a gerar menos desperdícios. Estes sistemas entregam sustentabilidade em todas as fases, desde o projeto até a operação. “Um exemplo é o LSF (Light Steel Frame) que pode ser dimensionado conforme as necessidades de cada projeto. Com ambientes climatizados artificialmente pela alta capacidade de isolação térmica e baixa transmitância térmica (U), entregam conforto térmico, acústico e economia de energia, finaliza Neves.

Projeto de Ligth Steel Frame e Instalação de Lãs Isolantes (lã de pet ou lã de vidro)

De acordo com as especialistas da Giner, a ventilação cruzada de um ambiente sensível não deve ser executada tendo ao lado um ambiente ruidoso, como um espaço de circulação. “Para que as esquadrias possam permanecer abertas sem grandes problemas é essencial o estudo do layout dos ambientes. Os espaços mais sensíveis devem estar locados em áreas mais silenciosas e próximas a ambientes igualmente sensíveis”, explicam Rossatto e Fengler.

O formato híbrido de trabalho, que intercala dias de atividade em casa e nos escritórios, deve permanecer e as necessidades de qualidade acústica, antes fundamentais nos edifícios de escritórios, demandarão novas soluções para os espaços residenciais. “Muitas das aplicações podem ser adaptadas para os ambientes de home office, basta desenvolver um bom projeto com acompanhamento de especialistas para compatibilizar a aplicação dos produtos e soluções acústicas ao projeto de design de interiores respeitando a escala para evitar excessos”, explicam as especialistas da Giner.

Divulgação fotos: Banco de Imagens

As soluções acústicas ajudam a melhorar a racionalização da execução de obras e contribuem para a redução de desperdício de materiais. “Estes atributos despertaram o interesse das construtoras em entender a eficiência do desempenho da estrutura que, até então, era executada dentro do processo construtivo habitual, explica Rafael Safra. A ideia de que construções com lajes espessas entregam conforto acústico, aos poucos vai sendo alterada graças ao uso de soluções acústicas como as mantas de borracha. “Isso possibilita o trabalho com lajes mais finas por meio de um contrapiso flutuante, onde se aplica manta entre laje e contrapiso, tendo desempenho acústico igual e até superior ao processo padrão”, ressalta Safra.

Academia e Loja Infantil. Divulgação fotos: Aubicon

Quanto à alvenaria, não é necessário executar paredes espessas, pois é possível ter um bom desempenho acústico com o sistema drywall. “O uso de soluções acústicas fez com que as construtoras conseguissem construir de forma mais leve, com menos concreto, aço, estrutura e, consequentemente, com menos desperdício de materiais”, conclui. No empreendimento Urbic Ibirapuera, em São Paulo, a Aubicon forneceu e acompanhou a aplicação de mantas acústicas para um projeto que utilizou o sistema construtivo em Steel Frame – formado por peças de aço galvanizado como elemento estrutural. As mantas acústicas de 5 mm foram instaladas embaixo de uma placa cimentícia e piso cerâmico.

A sustentabilidade e saudabilidade exigem um conjunto de estratégias articuladas. A poluição sonora causada nos canteiros de obras ainda é um grande desafio para o setor da construção civil. Por outro lado, se as soluções acústicas contribuem com o melhor desempenho das edificações, esses fatores não as isentam de serem sustentáveis. É o caso das mantas de poliéster (lã de PET) fabricadas pela empresa associada Ecofiber. O material utilizado é proveniente da reciclagem de garrafas pet e é livre de amônia, formol, benzeno e ODP. Por esse motivo, os materiais não se categorizam na FISPQ (Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico). Além disso, são hipoalergênicas, atóxicas, não corrosivas, inodoras e não necessitam de descarte especial.

Instalação de Lãs Isolantes (lã de pet ou lã de vidro)

No reaproveitamento dos materiais em obras de manutenção ou demolição, a lã de PET é uma solução 100% reaproveitável, segundo os fabricantes. No caso de demolições, as mantas não retêm umidade, não proliferam fungos, preservam as propriedades físicas e podem ser reutilizadas ou destinadas para a reciclagem. 

Nesse sentido, a Saint-Gobain do Brasil avançou ao publicar no International Environmental Product DeclarationEPD® System, 4 novas e 3 atualizações de Declarações Ambientais de Produtos para famílias de forros, painéis termoacústicos, incluindo sistemas de distribuição de ar condicionado. De acordo com Bruna Larissa Gama Cavalcante, analista de Pesquisa e Desenvolvimento P&D, “no processo de certificação foi realizada a avaliação de ciclo de vida para os produtos incluindo aspectos de conteúdo reciclável – as soluções são fabricadas com até 65% de vidro reciclado”.

As Declarações Ambientais de Produtos são um documento verificado e cadastrado que comunica informações sobre o impacto ambiental de um produto a partir de seu ciclo de vida. A Fundação Vanzolini é operadora no Brasil do International EPD System. O processo é avaliado de acordo com a norma ISO 14025, referência na Europa e Estados Unidos. Os produtos sustentáveis contam como pontos positivos para a conquista das certificações, como a Aqua-HQE e Leed, e podem ser essenciais no momento da especificação em projetos.

Cinemateca e Escritório. Divulgação fotos: Saint-Gobain